PARTE II

Introdução

 

A "providência da restauração" significa a providência de Deus para restaurar o homem decaído ao seu estado original dotado na criação, realizando assim a finalidade da criação. Como já foi demonstrado na Parte I, o homem caiu no nível de perfeição do estágio de crescimento, e daí por diante tem permanecido sob o domínio de Satanás. A fim de restaurar tais homens, Deus deve primeiro operar a providência de separar Satanás do homem.

Como foi tratado em detalhe na "Cristologia", para que o homem decaído possa ser separado de Satanás e restaurado a seu estado original, anterior à queda, ele deve remover o pecado original. No entanto, o homem não pode remover o pecado original, a menos que nasça de novo por meio do Messias como seu Verdadeiro Pai. Portanto, o homem decaído, tendo sido separado de Satanás, deve primeiro restaurar a si mesmo ao nível de perfeição do estágio de crescimento, isto é, ao padrão que Adão e Eva tinham crescido. Nesse fundamento ele pode receber o Messias e, pelo renascimento, ser restaurado à posição antes da queda de Adão e Eva. Então, finalmente ele virá a cumprir a finalidade da criação. Já que a providência da restauração é a providência de recriar o homem, de forma que ele possa cumprir a finalidade da criação, Deus deve operar a providência de acordo com o Princípio. O princípio por meio do qual é operada a restauração chama-se "princípio da restauração". Investiguemos também como se realiza a providência da restauração.

 

I. Princípio da Restauração por Indenização

1. RESTAURAÇÃO POR INDENIZAÇÃO

Antes de discutir as questões com respeito ao princípio da restauração por indenização, devemos primeiro saber em que posição o homem, devido à queda, está colocado, em relação tanto a Deus como a Satanás.

Originalmente, se os primeiros antepassados humanos tivessem se aperfeiçoado sem ter caído, unindo-se com Deus em coração, estariam na posição em que poderiam comunicar-se com Deus. No entanto, devido à queda, por meio de seu relacionamento de sangue com Satanás, foram colocados em uma posição na qual teriam que tratar com Satanás também. Por conseguinte, Adão e Eva que, embora com o pecado original depois da queda não tinham ainda feito nada de bem ou de mal, estavam colocados na posição de meio caminho entre Deus e Satanás, na qual podiam tratar com ambos. Seus descendentes estavam colocados na mesma posição de meio caminho. Conseqüentemente, as pessoas da sociedade decaída que levam uma vida conscienciosa não podem ser conduzidas para o inferno nem mesmo por Satanás, embora não tenham fé em Jesus, já que estão na posição de meio caminho. Por outro lado, por mais conscienciosa que seja sua vida, Deus não pode levá-las para o Paraíso, a menos que acreditem em Jesus. Por isto, tais homens espirituais têm que permanecer no mundo espiritual de meio caminho, que não é nem o Paraíso nem o Inferno.

Como, pois, Deus separa Satanás dos homens decaídos que estão na posição de meio caminho? Satanás domina o homem decaído, com o qual tem um relacionamento de sangue, de maneira que nem Deus pode restaurar o homem para o lado do Céu incondicionalmente, a menos que o próprio homem estabeleça condições que possibilitem a Deus exigi-lo.

Satanás, da mesma maneira, não pode levar o homem para o Inferno incondicionalmente, a menos que haja alguma condição no próprio homem por meio da qual Satanás possa invadi-lo. Assim, o homem decaído pode colocar-se do lado de Deus quando ele mesmo estabelece boas condições, ao passo que pode colocar-se do lado de Satanás quando estabelece más condições.

Foi com a finalidade de colocar Adão e Eva em posição na qual Deus pudesse operar a providência da restauração pelo fato de oferecer sacrifícios aceitáveis, que Deus mandou que eles oferecessem sacrifícios, quando a família de Adão estava na posição de meio caminho. Contudo, Caim matou seu irmão Abel, produzindo, ao contrário, a condição que permitiu a Satanás invadi-los. Deus enviou Jesus aos homens decaídos para que pudessem colocar-se no lado celeste, crendo nele. Contudo, contra a vontade de Deus, não creram em Jesus, e assim permaneceram do lado de Satanás. Aí está o motivo pelo qual Jesus é chamado "mestre do juízo", como também Salvador.

Que significa, então, "restauração por indenização"? Quando alguma coisa perde sua posição ou estado original, certas condições devem ser estabelecidas para que a posição ou o estado original possa ser restaurado. O estabelecimento de tais condições é chamado "indenização". Por exemplo: para restaurar a honra, a posição ou a saúde perdidas, devemos estabelecer as necessárias condições de esforços sinceros, bons qualificativos e cuidados médicos suficientes. Suponhamos que haja duas pessoas que se amavam, mas que agora estão em maus termos. Para que eles restaurem o estado original de amar-se um ao outro, devem estabelecer a condição de se desculparem um ao outro.

De maneira semelhante, o homem, que perdeu sua posição ou estado original dotado na criação, deve estabelecer condições necessárias a fim de restaurar a si mesmo. Este ato de restaurar a posição ou estado original dotado na criação é chamado "restauração por indenização". A condição a ser estabelecida para a restauração por indenização e chamada "condição de indenização".

Além disto, a providência de restaurar homens decaídos à sua posição original dotada na criação pelo estabelecimento da "condição de indenização" é chamada "providência da restauração por indenização". Até que grau devemos estabelecer a condição de indenização? Podemos dar os três seguintes casos:

O primeiro é estabelecer a condição de indenização na mesma quantia, isto é, restaurar o estado original estabelecendo a condição em um valor idêntico ao que foi perdido da posição e estado originais. Por exemplo: a compensação ou pagamento pertence a esta categoria. Está escrito (Ex 21.23-25):

"Se houver algum dano, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe."

referindo-se a esta espécie de condição de indenização.

O segundo, é o caso do estabelecimento da condição de indenização por um preço menor, isto é, restaurando o estado original mediante o estabelecimento da condição em um valor menor do que aquele originalmente perdido. Por exemplo, podemos mencionar o caso da liquidação da quantia total de uma dívida pela graça do credor ao devedor de uma grande soma. De acordo com este princípio, recebemos o grande benefício da salvação (ressurreição depois da morte espiritual), idêntica à de Jesus, estabelecendo a condição de indenização de crer na redenção pela cruz. Podemos restaurar a posição de ter nascido de novo por meio de Jesus e do Espírito Santo estabelecendo a condição de indenização pelo batismo meramente espargindo algumas gotas de água sobre nossas cabeças. Além disto, podemos receber o valioso mérito de comer o corpo de Jesus e beber seu sangue simplesmente tomando um pedaço de pão e um cálice de vinho no Sacramento da Sagrada Comunhão. Estes são exemplos de indenização menor.

O terceiro modo é fixar a condição de indenização em um preço maior do que foi originalmente perdido. Isto significa que, quando alguém tiver anteriormente falhado em satisfazer a condição de indenização de um preço menor, poderá restaurar o estado original estabelecendo uma condição de indenização em um preço maior. Por exemplo: Abraão, depois de falhar na oferta dos sacrifícios do pombinho, carneiro e novilha, teve que oferecer seu único filho Isaac por causa do preço adicional da condição de indenização. Nos dias de Moisés, quando os israelitas falharam em cumprir a vontade de Deus nos 40 dias de espionagem na terra de Canaã, sua condição de indenização aumentou e tiveram que vagar pelo deserto durante 40 anos, calculados na base de um ano para cada dia (Nm 14.34).

Por que, pois, temos que estabelecer uma condição maior, quando estabelecemos a condição de indenização pela segunda vez? Isto é assim porque, quando uma figura central na providência deve fixar a condição de indenização novamente, necessita incluir o que foi deixado sem terminar, por causa do fracasso dos personagens anteriores, além do que ele mesmo tinha que estabelecer originalmente.

O que devemos saber a seguir é como estabelecer a condição de indenização. Quando vamos restaurar qualquer coisa ao seu estado original partindo da circunstância atual de ter sido pervertida da posição e estado originais, devemos estabelecer uma condição de indenização tomando um curso que inverta aquilo pelo qual passamos. Por exemplo: a nação escolhida de Israel tem sido punida pelo pecado de ter rejeitado Jesus e de tê-lo crucificado. Por conseguinte, para que sejam restaurados à posição de eleitos, tendo sido salvos do pecado, devem inverter sua posição, amar Jesus e até mesmo levar a cruz e segui-lo (Lc 14.27). Esta é a razão pela qual o Cristianismo tornou-se uma religião de martírio. Outro exemplo: o homem causou aflição a Deus rebelando-se contra Ele e caindo na corrupção. Portanto, para ser restaurado por indenização, o homem deve inverter sua natureza decaída e consolar a Deus, restaurando-se ao estado de homem da natureza original dotada na criação, praticando a vontade de Deus. O primeiro Adão rebelou-se contra Deus, obrigando assim seus descendentes a caírem no seio de Satanás. Jesus, que veio como o segundo Adão, tinha, portanto, que servir e honrar a Deus a partir da posição de ser abandonado por Ele, a fim de poder restaurar a humanidade do seio de Satanás para o de Deus. Aqui se encontra o complexo motivo porque Deus teve que abandonar Jesus quando foi crucificado (Mt 27.46). Visto deste ângulo, até mesmo o código penal de uma nação é um método de estabelecer a condição de indenização para manter a segurança e a ordem da nação, impondo o castigo aos criminosos.

Quem deve estabelecer a condição de indenização? Como esclarecemos no Princípio da Criação, o homem originalmente deveria dominar até os anjos, depois de ter-se aperfeiçoado pela realização de sua porção de responsabilidade. Os primeiros antepassados humanos falharam em fazê-lo e, ao contrário, caíram sob a dominação de Satanás. Portanto, para que o homem seja restaurado à posição de dominar Satanás a partir da posição de estar sob sua dominação, o próprio homem deve estabelecer a devida condição de indenização mediante o cumprimento de sua própria porção de responsabilidade.

 

2. FUNDAMENTO PARA RECEBER O MESSlAS

O Messias deve vir como Verdadeiro Pai da humanidade. Deve vir como Verdadeiro Pai porque deve resgatar a humanidade, nascida de pais decaídos, do pecado original (cf. Parte I, Capítulo Vll, Seção IV, 1[1]). Para que os homens decaídos sejam restaurados ao estado dos homens originais da criação, devem receber o Messias sobre o "fundamento para receber o Messias", e assim eliminar seu pecado original.

Assim, que espécie de condição de indenização deve ser estabelecida para que os homens decaídos possam fazer o fundamento para receber o Messias? Para conhecer isto, devemos primeiro saber de que modo Adão falhou em cumprir a finalidade da criação. A condição de indenização deve ser estabelecida por meio de um processo que venha a inverter o processo pelo qual ele perdeu sua posição e estado originais.

Adão deveria estabelecer duas condições a fim de realizar a finalidade da criação. Primeiramente, deveria fazer o "fundamento de fé", isto é, ele devia ter obedecido ao mandamento de Deus de não comer o fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal. Depois, Adão deveria ter passado por seu período de crescimento, tempo durante o qual deveria cumprir a sua própria porção de responsabilidade, estabelecendo esta condição de fé. Entretanto, este período representa algum número de significado divino. Portanto, este período pode também chamar-se o "período para completar o número".

A segunda condição que Adão deveria estabelecer para realizar a finalidade da criação era fazer o "fundamento de substância" (encarnação). Se Adão tivesse estabelecido o fundamento de fé, passando por seu período de crescimento com fé e obediência ao mandamento de Deus, poderia ter-se unido em um só corpo com Deus sobre aquele fundamento. Em outras palavras, poderia ter estabelecido o fundamento de substância (encarnação), realizando assim a "perfeita encarnação do Verbo", tendo alcançado a natureza original da criação (Jo 1.14). Adão poderia ter alcançado o estado de homem de individualidade aperfeiçoada, o qual era a primeira bênção de Deus para com o homem. Naturalmente, o homem decaído deve colocar o fundamento de substância (encarnação) sobre o fundamento de fé, através do mesmo processo, antes de estabelecer o fundamento para receber o Messias.

 

(1) Fundamento de Fé

Adão caiu devido à sua desobediência ao mandamento de Deus, e assim falhou em estabelecer o fundamento de fé. Tendo então sido incapaz de tornar-se a perfeita encarnação do Verbo, não pôde atingir a finalidade da criação. Por conseguinte, a fim de que os homens decaídos sejam restaurados para a base na qual possam cumprir a finalidade da criação, devem primeiro restaurar, por indenização, o fundamento de fé que os primeiros antepassados humanos fracassaram em estabelecer. Antes de restaurarem o fundamento de fé, devem estabelecer as três seguintes condições de indenização:

Primeiramente, deve haver uma "figura central" com a qual se possa trabalhar. Já que Adão caiu sem se tornar a pessoa a estabelecer o fundamento de fé, até o presente Deus tem procurado uma figura central capaz de restaurar o fundamento de fé. Foi por causa da intenção de Deus de estabelecer tais figuras centrais que Ele ordenou que Caim e Abel oferecessem sacrifícios na família de Adão, e também chamou Noé, Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, os reis e João Batista.

Em segundo lugar, para restaurar o fundamento de fé deve haver "objetos condicionais". Por não crer, Adão anulou a palavra de Deus, que Ele lhe havia dado como a condição para estabelecer o fundamento de fé. O homem, que caiu, estava na posição em que não podia receber diretamente a palavra de Deus para a restauração do fundamento de fé; por isto, fizeram-se necessários objetos condicionais em lugar da Palavra. Contudo, os homens decaídos estavam situados na posição e estado em que eram mais enganosos do que todas as coisas (Jr 17.9), de forma que na idade antes do Velho Testamento os homens deveriam estabelecer o fundamento de fé apresentando como objetos condicionais coisas criadas tais como as ofertas, ou a arca que substituía as ofertas. Por isso o fundamento de fé pode também ser o fundamento para restaurar todas as coisas, que foram invadidas por Satanás por causa da falta de fé do homem. Na Idade do Velho Testamento, os objetos condicionais para estabelecer este fundamento eram as palavras da Lei ou a arca da aliança, o templo ou as figuras centrais substituindo a Palavra. Além disso, na Idade do Novo Testamento, o Evangelho e Jesus, que era a "Palavra em substância", eram os objetos condicionais para estabelecer o fundamento de fé. Tais objetos condicionais, que se fizeram necessários depois da queda humana, são para a restauração do fundamento de fé, do ponto de vista do lado do homem. Mas, do ponto de vista do lado de Deus, isto é para decidir a posse.

Em terceiro lugar, os homens decaídos devem ter um "período matemático de indenização". Por que, pois, deve haver um período matemático de indenização na providência e o que ele significa? Isto será tratado em detalhe mais adiante (cf. Parte II, Capítulo III, Seção II, 4).

 

(2) Fundamento de Substância

Para que o homem decaído possa cumprir a finalidade da criação, deve realizar a perfeita encarnação da Palavra que os primeiros antepassados humanos falharam em cumprir, no fundamento de fé restaurado. No entanto os homens decaídos jamais poderão tornar-se a perfeita encarnação sem eliminar o pecado original através do Messias. O homem decaído não pode receber o Messias até que se encontre no fundamento para receber o Messias, que deve ser realizado pelo estabelecimento do fundamento de substância sobre o fundamento de fé restaurado. O homem decaído pode tornar-se uma perfeita encarnação (substância) somente depois de tirar seu pecado original por meio do Messias, restaurando a posição antes da queda dos primeiros antepassados humanos, e tornando-se um só corpo com o Messias, centralizado no coração de Deus; e finalmente passando pelo período de crescimento, o qual o primeiro casal humano deixou sem cumprir devido à sua queda.

Mesmo ao fazer o fundamento de substância, há certas condições de indenização que o homem decaído deve estabelecer, isto é, "a condição de indenização para eliminar a natureza decaída". O primeiro casal humano veio a ter o pecado original devido à queda, falhando em realizar a natureza original dotada na criação, vindo a possuir natureza decaída. Portanto, para que um homem decaído estabeleça o fundamento de substância para a restauração de sua natureza original mediante a eliminação de seu pecado original através do Messias, deve primeiro estabelecer a condição de indenização para eliminar a natureza decaída. Como estabelecer tais condições será tratado depois (cf. Parte II, Capítulo I, Seção I, 2).

 

II. Curso da Providência da Restauração

AS IDADES NO CURSO DA PROVIDÊNCIA DA RESTAURAÇÃO

Apresentaremos um panorama geral das idades em todo o curso da história, desde os tempos de Adão até o presente.

A providência de Deus para realizar sua finalidade da criação, conduzindo o homem decaído a fazer o fundamento para receber o Messias, sobre o qual pudesse recebê-lo, iniciou-se com a família de Adão. Contudo, o fato de ter Caim matado Abel frustrou a providência, e a vontade de Deus foi mudada para a família de Noé, depois de dez gerações.

O objetivo de julgar a geração má por um dilúvio de 40 dias foi cumprir a providência da restauração, fazendo com que a família de Noé estabelecesse o "fundamento em um nível de família para receber o Messias". Devido à queda de Cam, as dez gerações e os 40 dias que Deus havia fixado para eleger a família de Noé com a arca, foram invadidos por Satanás.

A vontade de Deus transferiu-se então para Abraão, depois dos 400 anos, que foram o período para restaurar para o lado celeste, por meio de indenização, todas as condições perdidas. Se Abraão tivesse estabelecido corretamente o fundamento em nível de família para receber o Messias, o "fundamento em nível nacional para receber o Messias" poderia ter sido estabelecido centralizando-se no nível de família. Então, sob o fundamento em nível nacional, ele poderia ter recebido o Messias. Contudo, a Vontade foi novamente frustrada pela falha de Abraão nas ofertas simbólicas. Por isso o período de dois mil anos depois de Adão, tempo este durante o qual Deus tinha procurado o "pai da fé" para receber o Messias, foi invadido por Satanás. Abraão distinguiu-se de Noé porque, embora tivesse fracassado na oferta simbólica, ele finalmente teve êxito em estabelecer em nível de família o fundamento para receber o Messias, prolongando a duração, cobrindo três gerações, incluindo as gerações de Isaac e Jacó. Centralizado neste fundamento, ele multiplicou os eleitos de Deus no Egito, e mais tarde pôde estender nacionalmente o fundamento para receber o Messias. Por esta razão Abraão é chamado o "pai da fé".

O período de dois mil anos de Adão até Abraão pode muito bem ser chamado "a idade para assentar o fundamento sobre o qual iniciar a providência da restauração estabelecendo Abraão como o pai da fé". É por isto que se diz que a obra da providência da restauração começou com Abraão.

Devido à falha de Abraão na oferta simbólica, o período de dois mil anos de Adão até Abraão foi invadido por Satanás. Portanto deve seguir o período para restaurar por indenização este período perdido de volta para o lado celeste; este é o período de dois mil anos de Abraão até a vinda de Jesus. Se Abraão não tivesse falhado na oferta simbólica, o Messias poderia ter vindo no fundamento para receber o Messias em nível nacional que teria sido estabelecido por seus descendentes. Assim, a providência da restauração teria sido completada naquele tempo. Da mesma maneira, se o povo judeu tivesse estabelecido Jesus como um sacrifício vivo perante Deus, crendo nele e a ele servindo, a providência da restauração poderia ter sido completada naquele tempo centralizando-se no Messias, que já viria no fundamento em nível nacional estabelecido por eles.

No entanto, o povo judeu falhou na oferta em nível nacional crucificando Jesus, assim como Abraão havia falhado na oferta simbólica. Por isso o período de dois mil anos desde Abraão até Jesus foi novamente invadido por Satanás. Assim, houve a necessidade de um outro período de dois mil anos para restaurar por indenização o período perdido de dois mil anos, de volta para o lado celeste; e este é o período de dois mil anos desde Jesus até os dias de hoje. Durante este período os cristãos devem estabelecer o "fundamento em nível mundial para receber o Senhor do Segundo Advento", na providência da restauração através da cruz.

 

III. Divisão das Idades no Curso da Providência da Restauração

1. DIVISÃO DAS IDADES DO PONTO DE VlSTA DA PROVIDÊNCIA DE ACORDO COM A PALAVRA

A. O período de dois mil anos desde Adão até Abraão foi o período em que o homem ainda não podia estabelecer a condição de indenização que lhe permitiria receber a palavra de Deus diretamente para a providência da restauração. Deste modo, este foi o período em que o homem decaído estabeleceu o fundamento para o período seguinte, quando a providência por meio da Palavra seria possível, simplesmente estabelecendo a condição de indenização por meio de ofertas. Por isso tal período chama-se "idade providencial para o fundamento da Palavra".

B. O período de dois mil anos de Abraão até Jesus foi o período no qual o nível espiritual e o grau do intelecto do homem cresceram para o estágio de formação por meio da Palavra do Velho Testamento. Por isso este período chama-se "Idade do Velho Testamento no estágio de formação".

C. O período de dois mil anos de Jesus até o período do segundo advento é o período em que o nível espiritual e intelectual do homem deve desenvolver-se até o estágio de crescimento por meio da Palavra do Novo Testamento. Por isso este período chama-se "Idade do Novo Testamento no estágio de crescimento".

D. O período para a finalização da providência da restauração depois do segundo advento é o período em que o nível espiritual e intelectual do homem deve crescer através do estágio de aperfeiçoamento, por meio da Palavra do Completo Testamento. Por isso este período chama-se "Idade do Completo Testamento no estágio de aperfeiçoamento".

 

2. DIVISÃO DAS IDADES DO PONTO DE VlSTA DA PROVIDÊNCIA DA RESSURREIÇÃO

A. O período de dois mil anos de Adão até Abraão foi o período em que o homem estabeleceu, por meio de ofertas, o fundamento para a Idade do Velho Testamento, possibilitando a futura providência da ressurreição. Por isso este período chama-se "idade providencial para o fundamento da ressurreição".

B. O período de dois mil anos de Abraão até Jesus foi o período em que o homem pôde ressuscitar até o estágio de espírito de forma por meio da Palavra do Velho Testamento e por meio do benefício da idade na providência da ressurreição. Por isso este período chama-se "idade providencial para a ressurreição no estágio de formação".

C. O período de dois mil anos de Jesus até o segundo advento é o período em que o homem é ressuscitado até o estágio de espírito de vida, por meio da Palavra do Novo Testamento e por meio do benefício da idade na providência da restauração. Por isso este período chama-se "idade providencial para a ressurreição no estágio de crescimento".

D. O período para a finalização da providência da restauração depois do segundo advento é o período em que o homem é ressuscitado completamente até o estágio de espírito divino, por meio da Palavra do Completo Testamento e por meio do benefício da idade na providência da restauração. Por isso este período chama-se a "idade providencial para a ressurreição no estágio de aperfeiçoamento".

 

3. DIVISÃO DAS IDADES DO PONTO DE VISTA DA PROVIDÊNCIA DA RESTAURAÇÃO POR INDENIZAÇÃO

A. O período de dois mil anos de Adão até Abraão foi o período em que o homem estabeleceu o fundamento para a Idade do Velho Testamento, possibilitando a restauração por indenização, de volta para o lado celeste, do período invadido por Satanás, estabelecendo a Abraão. Por isso este período chama-se "período providencial para o fundamento da restauração por indenização".

B. O período de dois mil anos de Abraão até Jesus foi o período para restaurar, por indenização, o período de dois mil anos desde Adão (que foi invadido por Satanás devido à falha de Abraão nas ofertas) de volta para o lado celeste, centralizando-se na nação israelita. Por isso este período chama-se "idade providencial para a restauração por indenização".

C. O período de dois mil anos de Jesus até o segundo advento é o período para restaurar novamente, por indenização, o período de dois mil anos da Idade do Velho Testamento (que foi invadido por Satanás devido à crucifixão de Jesus) de volta para o lado celeste, centralizando-se nos cristãos. Por isso este período chama-se "idade providencial do prolongamento da restauração por indenização".

D. O período para a finalização da providência da restauração depois do segundo advento é o período para restaurar, por indenização, todo o curso da providência da restauração, que foi invadido por Satanás, completamente de volta para o lado celeste. Por isso este período chama-se "idade providencial para a finalização da restauração por indenização".

 

4. DIVISÃO DAS IDADES DO PONTO DE VlSTA DA EXTEN-
SÃO DO FUNDAMENTO PARA RECEBER O MESSIAS

A. O período de dois mil anos de Adão até Abraão foi o período em que Deus fez com que o homem estabelecesse o fundamento para receber o Messias no nível familiar, estabelecendo a família de Abraão por meio das ofertas. Por isso este período chama-se "idade providencial para o fundamento no nível de família para receber o Messias".

B. O período de dois mil anos de Abraão até Jesus foi o período em que Deus se propôs a estabelecer o fundamento para receber o Messias no nível nacional, estabelecendo a nação israelita por meio da Palavra do Velho Testamento. Por isso este período chama-se "idade providencial para o fundamento nacional para receber o Messias".

C. O período de dois mil anos de Jesus até o segundo advento é o período em que se assenta o "fundamento mundial para receber o Messias", estabelecendo os cristãos mundialmente por meio da Palavra do Novo Testamento. Por isso este período chama-se "idade providencial para o fundamento mundial para receber o Messias".

D. O período para a finalização da providência da restauração depois do segundo advento é o período no qual se completa o fundamento no nível macrocósmico para receber o Messias, operando a providência no nível cósmico por meio da Palavra do Completo Testamento. Por isso este período chama-se "idade providencial para a finalização do fundamento cósmico para receber o Messias".

 

5. DIVISÃO DAS IDADES DO PONTO DE VlSTA DE SUAS RESPECTIVAS PORÇÕES DE RESPONSABILIDADE

A. O período de dois mil anos de Adão até Abraão foi o período em que Deus estabeleceu o fundamento para a providência de Sua própria porção de responsabilidade, a ser cumprida na idade seguinte do Velho Testamento. Por isso este período chama-se "idade providencial para o fundamento da porção de responsabilidade de Deus".

B. O período de dois mil anos de Abraão até Jesus foi o período em que Deus operou a providência da restauração no nível de formação, centralizando-se nos profetas, assumindo a responsabilidade no princípio de ter Ele criado o homem, assumindo assim a primeira responsabilidade de fazer diretamente Satanás render-se. Por isso este período chama-se "idade providencial para a porção de responsabilidade de Deus".

C. O período de dois mil anos de Jesus até o segundo advento é o período em que Jesus e o Espírito Santo, que deveriam cumprir a missão de Adão e Eva (que são responsáveis pela queda), operam a providência da restauração no grau de crescimento entre os homens decaídos, assumindo a segunda responsabilidade de fazer Satanás render-se. Por isso este período chama-se "idade providencial para a porção de responsabilidade de Jesus e do Espírito Santo".

D. O período para a finalização da providência da restauração depois do segundo advento é o período em que os santos, tanto na Terra como no Céu, deverão completar a providência da restauração, assumindo a terceira responsabilidade de fazer Satanás, o anjo decaído, render-se, de acordo com o Princípio da Criação de que o homem foi feito originalmente para dominar até mesmo os anjos. Por isso este período chama-se "idade providencial para a porção de responsabilidade dos santos".

 

6. DIVISÃO DAS IDADES DO PONTO DE VlSTA DA IDENTIDADE DE TEMPO PROVIDENCIAL

A. O período de dois mil anos de Adão até Abraão foi o período em que as condições de indenização para restaurar o fundamento para receber o Messias foram estabelecidas simbolicamente. Por isso este período chama-se "idade da identidade de tempo simbólica".

B. O período de dois mil anos de Abraão até Jesus foi o período em que as condições de indenização para restaurar o fundamento para receber o Messias foram estabelecidas em imagem e semelhança. Por isso este período chama-se "idade da identidade de tempo em imagem".

C. O período de dois mil anos de Jesus até o segundo advento é o período em que as condições de indenização para restaurar o fundamento para receber o Messias são estabelecidas substancialmente. Por isso este período chama-se "idade da identidade de tempo substancial".

 

IV. A História da Providência da Restauração e "Eu"

O corpo individual chamado "eu" é, afinal de contas, um produto da história da providência da restauração. Este "eu", portanto, é o personagem que deve realizar a finalidade para a qual a história se dirige. Portanto, o "eu" deve representar a vontade da história. Para fazer isto, o "eu" deve estabelecer horizontalmente, centralizando-se em "mim mesmo", todas as condições de indenização que são exigidas pela história da providência da restauração, através de um longo período.

Somente fazendo isto, o "eu" se torna o fruto desejado pela história da providência da restauração. Portanto o "eu" deve restaurar, por indenização, horizontalmente, em minha geração, centralizando-se em mim mesmo, todas as missões de todas as idades que os profetas e santos, eleitos para a finalidade da providência da restauração no curso da história, deixaram por terminar. Do contrário, o "eu" não poderá tornar-se o corpo individual que realizou a finalidade da providência da restauração. Para tornar-se tal vencedor histórico, o "eu" deve conhecer com exatidão o coração de Deus quando Ele trabalhou com os profetas e santos, o significado fundamental de Seu chamado e a missão providencial que Ele lhes confiou.

Não existe ninguém entre os homens decaídos que possa realmente situar-se em tal posição por si mesmo. Por conseguinte, devemos conhecer todas estas coisas por meio do Senhor do Segundo Advento, que deve vir como a finalização da providência da restauração. Acreditando nele e unindo-nos em um só corpo com ele, devemos estar na posição de estabelecer, horizontalmente, todas as condições verticais de indenização da história da providência da restauração.

Desta maneira, o caminho que nossos predecessores, que vieram para cumprir a vontade de Deus na providência da restauração, percorreram até aqui, é o que nós mesmos devemos percorrer novamente hoje. Ademais, devemos passar até mesmo pelos caminhos por eles não percorridos. Os homens decaídos jamais poderão encontrar o caminho da vida se não conhecerem os particulares e o conteúdo da providência da restauração. Eis aqui o motivo pelo qual devemos conhecer o princípio da restauração em detalhe.

 

Capítulo I

 

 

Idade Providencial para o

Fundamento da Restauração

 

SEÇÃO I

 

Providência da Restauração

Centralizando-se na Família de Adão

 

Já tratamos (cf. Parte I, Capítulo III, Seção II, 1) o fato de que Deus tem trabalhado para salvar os homens decaídos, embora a queda humana tenha sido causada pela falha do própria homem. A providência de Deus para restaurar os homens decaídos fazendo com que eles estabeleçam o fundamento para receber o Messias começou com a família de Adão.

Como foi tratado na introdução, Adão, devido ao seu relacionamento de sangue com Satanás, foi colocado na posição de meio caminho na qual podia tratar com Deus ou com Satanás. Por conseguinte, para que o homem decaído, na posição de meio caminho, possa ser separado e afastado de Satanás para o lado celeste a fim de estabelecer o fundamento para receber o Messias, ele deve estabelecer por si mesmo certas condições de indenização. Conseqüentemente, a família de Adão deveria ter estabelecido a condição de indenização para restaurar o fundamento de fé e o fundamento de substância (encarnação) e, sobre o fundamento para receber o Messias estabelecido automaticamente pelos dois anteriores, deveria finalmente receber o Messias, antes que pudesse realizar-se a Providência da Restauração.

 

1. Fundamento de Fé

Primeiro, para que o fundamento de fé possa ser estabelecido, deve haver certos objetos condicionais como o preço para restaurá-lo por indenização. Originalmente, Adão, devido à sua falta de fé, perdeu a palavra de Deus dada como a condição para estabelecer o fundamento de fé. Conseqüentemente, para que Adão, que caiu em uma posição na qual não podia receber a palavra de Deus diretamente, restaurasse o fundamento de fé, devia ter apresentado certos objetos condicionais aceitáveis à vontade de Deus em lugar da Palavra com uma fé absoluta. Este objeto condicional a ser apresentado na família de Adão em lugar da Palavra era a oferta.

Segundo, deve haver uma figura central para restaurar o fundamento de fé mesmo antes de estabelecer o fundamento. A figura central para restaurar o fundamento de fé na família de Adão era, naturalmente, o próprio Adão. Por isso era natural que Adão oferecesse sacrifícios. O fato de ele o fazer de maneira aceitável ou não poderia decidir o sucesso ou o fracasso em estabelecer o fundamento de fé.

A narrativa bíblica indica que Adão não pôde oferecer os sacrifícios, mas, ao invés, Caim e Abel o fizeram. Qual deve ter sido o motivo? De acordo com o Princípio da Criação, o homem foi originalmente criado para tratar somente com um senhor. Portanto Deus não pode operar Sua providência no Princípio da Criação com ser algum que esteja na posição de tratar com dois senhores. Se Deus aceitasse Adão e sua oferta, Satanás também procuraria tratar com eles, sobre a base de ter ele um relacionamento de sangue com Adão. Nesse caso, Adão estaria colocado na posição fora do princípio de ter que tratar com dois senhores, Deus e Satanás. Deus, não podendo operar tal providência fora do Princípio, tinha que conduzir a providência de dividir Adão, a origem dos dois caracteres do bem e do mal, em dois seres, isto é, o ser que representava o caráter bom e o ser que representava o caráter mau. Com esta finalidade, Deus deu dois filhos a Adão, respectivamente representando o bem e o mal. Ele fez com que cada um oferecesse sacrifícios, colocando-os nas posições de respectivamente tratarem com Deus ou com Satanás, isto é, colocou-os na posição no Princípio da Criação de tratar com um só mestre.

Então, quem, entre Caim e Abel, os filhos do mesmo pai, deveria situar-se na posição de tratar com Deus, como a representação do bem, e quem deveria situar-se na posição de tratar com Satanás, como a representação do mal? Tanto Caim como Abel eram frutos da queda de Eva. Conseqüentemente, esta questão devia ser decidida de acordo com o curso da queda de Eva, que foi a origem da queda.

A queda de Eva consistiu em duas espécies de casos de amor ilícito. O primeiro foi a queda espiritual por meio do amor com o arcanjo. O segundo foi a queda física por meio do amor com Adão. Ambos, naturalmente, são iguais no fato de serem ações decaídas. Contudo, se quisermos decidir qual dos dois está conforme o Princípio e é mais perdoável, devemos dizer que o segundo ato o é, mais do que o primeiro. O motivo é que o segundo ato da queda foi aquele no qual Eva teve relação sexual com Adão, que seria seu esposo no Princípio, por seu desejo de voltar para o lado de Deus, depois de perceber a natureza ilícita da relação com o arcanjo (cf. Parte I, Capítulo II, Seção II, 2). O primeiro ato da queda foi aquele no qual ela teve a relação com o arcanjo, que não era seu esposo no Princípio, pelo desejo excessivo de desfrutar daquilo que, para ela, ainda não era tempo de desfrutar, isto é, de tornar-se como Deus, com seus olhos abertos (Gn 3.5).

Caim e Abel eram os frutos do amor ilícito de Eva. Portanto, Deus tinha que discriminar condicionalmente entre os dois tipos de atos ilícitos de amor cometidos centralizando-se em Eva, e tinha que estabelecer Caim e Abel nas posições respectivas que representavam diferentes situações. Isto é, Caim, sendo o fruto do primeiro amor, foi colocado na posição de tratar com Satanás, como a representação do mal, simbolizando o primeiro ato decaído de amor com o arcanjo. Abel, sendo o fruto do segundo amor, foi colocado na posição de tratar com Deus, como a representação do bem, simbolizando o segundo ato decaído de amor com Adão.

Originalmente havia uma norma no Princípio que estabelecia que o primeiro filho adquiria o direito de primogenitura. Desta forma, Satanás também tinha mais apego ao mais velho do que ao mais novo. Ademais, Satanás, estando na posição de dominador do mundo criado, tinha a intenção de tomar Caim, ao qual tinha maior apego. Por isso Deus tomou Abel.

Citemos um exemplo da Bíblia. Deus disse a Caim: "Se não fizeres bem, o pecado jaz à porta" (Gn 4.7). Disto podemos deduzir que Caim estava colocado em uma posição de tratar com Satanás. Quando os israelitas fugiram do Egito, Deus feriu não somente todos os primogênitos dos egípcios, mas também os de seus animais (Êx 12.29), porque estavam todos na posição de objetos de Satanás (posição de Caim). Por outro lado, quando os israelitas foram restaurados a Canaã, somente os levitas, que estavam na posição do segundo filho, Abel, podiam levar a Arca da Aliança (Dt 31.25). Há também um testemunho bíblico declarando que Deus amou ao segundo filho Jacó e odiou ao primeiro filho Esaú, enquanto ainda estavam no ventre da mãe (Gn 25.23). O motivo é que somente a distinção de ser o primogênito ou o segundo filho justificava suas respectivas posições de Caim e Abel. No caso da bênção de Jacó para seus netos, Efraim e Manassés, ele os abençoou cruzando as mãos e colocando a mão direita sobre a cabeça de Efraim, o neto mais novo, a quem queria dar prioridade (Gn 48.14). O motivo era também porque Efraim estava na posição de Abel. De acordo com este princípio, Deus ordenou que Abel e Caim oferecessem sacrifícios, tendo-os estabelecido respectivamente nas posições em que cada um podia tratar somente com um senhor, Deus ou Satanás (Gn 4.3-5).

Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim. Qual deve ter sido a razão? Deus aceitou a oferta de Abel (Gn 4.4) porque ele ofereceu o sacrifício aceitável à vontade de Deus, de boa fé, na posição objetiva na qual Deus podia recebê-lo (Hb 11.4). Deste modo, o fundamento de fé, que devia ser feito na família de Adão, foi estabelecido. Isto foi também para ensinar-nos que Deus está pronto a aceitar qualquer homem, mesmo decaído, se estabelecer uma condição favorável que possibilite a Deus recebê-lo. Não foi porque Deus realmente odiasse Caim que Ele rejeitou a oferta de Caim. Foi porque Deus não podia aceitar sua oferta, a menos que o próprio Caim estabelecesse certa condição que justificasse a aceitação da oferta, pois Caim estava colocado em uma posição na qual podia ser tomado por Satanás.

Por este exemplo Deus nos demonstrou que, para que um homem, na posição de objeto de Satanás, volte para o lado de Deus, deve estabelecer certa condição de indenização. Que espécie de condição de indenização devia Caim ter estabelecido? Era a condição de indenização para eliminar a natureza decaída, que discutiremos em detalhe mais adiante.

 

2. Fundamento De Substância

Para que a família de Adão estabelecesse o fundamento de substância, Caim teria que ter estabelecido a "condição de indenização para eliminar a natureza decaída", de modo que Deus pudesse aceitar sua oferta com alegria. Como, pois, deveria ele ter estabelecido a condição de indenização para eliminar a natureza decaída?

Os primeiros antepassados humanos caíram pelo arcanjo, herdando assim sua natureza decaída. Por isso, para que o homem decaído dominasse a natureza decaída, devia ter estabelecido a condição de indenização, de acordo com o princípio da restauração por indenização, tomando o curso inverso ao caminho no qual obteve a natureza decaída.

O arcanjo caiu por falhar em amar Adão, a quem Deus amava mais. Por isso surgiu a natureza decaída de não tomar a mesma posição de Deus. Conseqüentemente, para eliminar esta natureza decaída, Caim, que estava na posição do arcanjo, devia ter amado a Abel, que estava na posição de Adão, tomando assim a mesma posição de Deus.

Ademais, o arcanjo caiu porque falhou em receber o amor de Deus através de Adão, que estava mais perto de Deus, como mediador. O arcanjo, ao invés, se propôs tomar a posição de Adão. Por isso surgiu a natureza decaída de não guardar a própria posição. Conseqüentemente, para eliminar esta natureza decaída, Caim, que estava na posição do arcanjo, devia ter tomado a posição de receber o amor de Deus através de Abel, que estava na posição de Adão, como mediador, para que pudesse manter sua posição.

Depois, o arcanjo caiu por sua dominação de Adão e Eva, os quais deveriam dominá-lo. Por isso surgiu a natureza decaída de inverter o domínio. Conseqüentemente, para que o homem eliminasse esta natureza decaída, Caim, que estava na posição do arcanjo, devia ter estabelecido a lei e o sistema de dominação, pondo-se na posição de obedecer a Abel, que estava na posição de Adão, e de ser dominado por ele.

A vontade do bem de que o homem não comesse do fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal devia ter sido transmitida por Deus a Adão, por Adão a Eva e por Eva ao arcanjo, assim multiplicando o bem. Contudo, ao contrário, o arcanjo transmitiu a Eva a vontade de iniqüidade de que o fruto podia ser tomado e comido, e daí Eva transmitiu isto a Adão, assim causando a queda humana. Por isso surgiu a natureza decaída de multiplicar os pecados. Para eliminar este tipo de natureza decaída, Caim, que estava na posição do arcanjo, devia ter estabelecido a posição de multiplicar o bem, pondo-se na posição relativa a Abel, que estava mais perto de Deus do que ele, recebendo a vontade do bem através de Abel.

Vejamos agora vários exemplos correspondentes às ofertas de Caim e Abel. Em nosso corpo individual, nossa mente, que nos dirige para o bem (Rm 7.22), está na posição de Abel, ao passo que nosso corpo, que tende a servir a lei do pecado (Rm 7.25), está na posição de Caim. Conseqüentemente, nosso corpo individual só pode tornar-se bom quando obedecer ao comando de nossa mente. Contudo, na realidade, nosso corpo sempre se rebela contra o comando de nossa mente, repetindo assim a mesma ação em que Caim matou Abel. Por isso, nosso corpo individual se torna mau. Deste modo, a vida de religião pode ser chamada a vida para fazer nosso corpo obedecer à nossa mente, dirigindo-se para a vontade de Deus, tal como Caim devia ter obedecido a Abel. Ademais, o homem caiu na posição de ser enganoso mais do que todas as coisas (Jr 17.9); assim, ele devia ir perante Deus somente através das coisas criadas, estabelecendo estas coisas na posição de Abel. Esta era a "oferta". A tendência do homem de procurar bons líderes e bons amigos, do ponto de vista do resultado, se deriva do desejo da mente divina de estar perante Deus, encontrando alguém que esteja na posição de Abel, mais perto de Deus, e unindo-se a ele.

A fé cristã nos ensina a ser mansos e humildes para assegurar-nos uma posição perante Deus, encontrando em nossa vida diária, por meio destas virtudes, uma pessoa de tipo Abel. Partindo do indivíduo para a família, a sociedade, a raça, a nação e o mundo, há sempre dois tipos de pessoas, isto é, o tipo Caim e o tipo Abel. Portanto, para restaurar todos estes para a posição original da criação, a pessoa de tipo Caim deve obedecer e render-se à pessoa de tipo Abel. Jesus veio ao mundo como o Abel a quem toda a humanidade devia servir e obedecer. Por isso ele disse: "...Ninguém vem ao Pai, senão por mim" (Jo 14.6).

Se a família de Adão tivesse conseguido estabelecer a condição de indenização para eliminar a natureza decaída por meio da obediência de Caim a Abel, poderiam ter estabelecido o fundamento de substância sobre o fundamento de fé já estabelecido. Poderiam ter restaurado o fundamento de quatro posições, originalmente planejado na criação, recebendo o Messias sobre o fundamento para receber o Messias em nível de família. Contudo, Caim matou Abel, repetindo a natureza decaída original pela qual o arcanjo causou a queda do homem, e assim a família de Adão falhou em estabelecer o fundamento de substância, que devia ser estabelecido naquela época. Conseqüentemente, a providência da restauração centralizada na família de Adão terminou em fracasso.

 

3. O Fundamento Para Receber o Messias na Família de Adão e Sua Perda

O fundamento para receber o Messias se realiza estabelecendo o fundamento de substância sobre o fundamento de ter restaurado por indenização o fundamento de fé. Do ponto de vista dos sacrifícios oferecidos, o fundamento de fé deve ser restaurado fazendo a oferta simbólica aceitavelmente, e o fundamento de substância deve realizar-se oferecendo a oferta substancial aceitavelmente. Investiguemos então o significado e a finalidade da oferta simbólica e da oferta substancial.

As três grandes bênçãos de Deus para o homem, a finalidade de Sua criação, deviam realizar-se quando Adão e Eva, depois de terem aperfeiçoado suas respectivas individualidades, se tornassem esposo e esposa, multiplicando seus filhos para formar uma família e, além disto, viessem a dominar toda a Criação. Contudo, devido à queda, estas três grandes bênçãos não se realizaram. A fim de restaurá-las, devemos seguir o curso inverso e estabelecer o fundamento de fé oferecendo sacrifícios simbólicos, por meio dos quais podemos estabelecer, ao mesmo tempo, tanto a condição de indenização para restaurar as coisas criadas, como a condição simbólica de indenização para restaurar o homem.

Em seguida, devemos fazer o fundamento para receber o Messias depois de ter assentado o fundamento de substância, oferecendo os sacrifícios substanciais que, ao mesmo tempo, podem ser estabelecidos como a condição de indenização para restaurar os filhos e, sobre esta base, restaurar os pais. Podemos, pois, considerar o significado e a finalidade da oferta simbólica separadamente.

Como tratamos no capítulo sobre a "Queda do Homem", Satanás, que veio a dominar os homens decaídos, dominou também todas as coisas que deviam estar sob o domínio do homem. É por esse motivo que a Bíblia diz que todas as coisas estão juntamente com dores de parto (Rm 8.22). Logo, o primeiro objetivo de apresentar ofertas simbólicas com coisas criadas é estabelecer a condição de indenização para restaurar todas as coisas, que são os objetos substanciais simbólicos de Deus. Por conseguinte, para que o homem, que se tornou enganoso mais do que todas as coisas devido à queda (Jr 17.9), se apresente perante Deus, deve passar pelas coisas criadas, que estão mais perto de Deus, de acordo com a ordem no Princípio da Criação. Deste modo, a segunda finalidade para fazer ofertas simbólicas é estabelecer a condição simbólica de indenização, a fim de restaurar substancialmente os homens perante Deus.

A seguir, a oferta substancial é uma oferta de tipo interno que só pode ser realizada sobre a base de ter feito aceitavelmente a oferta simbólica de tipo externo, seguindo o padrão de criar todas as coisas primeiro e o homem depois. Logo, devemos primeiro fazer a oferta simbólica de uma maneira aceitável, estabelecendo a condição de indenização para restaurar todas as coisas e, ao mesmo tempo, a condição simbólica de indenização para restaurar o homem. Sobre esta base devemos fazer as ofertas substanciais como condição de indenização para restaurar o homem substancialmente. Uma oferta substancial significa estabelecer a condição de indenização para eliminar a natureza decaída a fim de restaurar o homem substancial. Se uma pessoa de tipo Caim estabelecer a condição de indenização para restaurar os filhos, fazendo a oferta substancial com a pessoa de tipo Abel, isto também será reconhecido como a condição de indenização para restaurar os pais, como logo trataremos; assim, esta oferta substancial será aceitável.

Para que a família de Adão estabelecesse o fundamento para receber o Messias, o próprio Adão devia primeiro assentar o fundamento de fé por meio da oferta simbólica. Como foi notado acima, a oferta não começou com Adão, porque se Adão oferecesse os sacrifícios, tanto Deus como Satanás poderiam tratar com a oferta, estando ela em uma posição fora do Princípio. Além disto há outra razão, que provém do aspecto de sentimento e coração. O Adão decaído era, na realidade, a própria pessoa que causou a Deus a aflição que duraria milhares de gerações. Por isso, Adão jamais poderia ser objeto do coração de Deus, com o qual Deus pudesse tratar diretamente em Sua providência de restauração.

Por isso Deus ordenou que seu segundo filho Abel oferecesse sacrifícios simbólicos em vez de Adão. Assim foram estabelecidas ao mesmo tempo a condição de indenização para restaurar todas as coisas e a condição simbólica de indenização para restaurar os homens. Então, sobre esta base, se Caim e Abel tivessem estabelecido a condição de indenização para restaurar os filhos, por meio da oferta substancial, Adão, como pai, estaria colocado sobre este fundamente de substância, e assim o fundamento para receber o Messias poderia ter-se realizado naquela época.

A fim de oferecer os sacrifícios substanciais pelo estabelecimento da condição de indenização para eliminar a natureza decaída, a figura central para oferecer o sacrifício devia primeiro ser escolhida. Por conseguinte, devemos entender que a oferta simbólica de Abel tinha dois objetivos: primeiro, estabelecer o fundamento de fé em lugar de Adão e, segundo, decidir por Abel como a figura central para fazer a oferta substancial.

A condição de indenização para eliminar a natureza decaída devia ser estabelecida por Caim, e devemos perceber que o resultado disto seria que a família de Adão estabeleceria a condição em sua totalidade. Se os antepassados humanos tivessem obedecido ao mandamento de Deus, a vontade de Deus podia ter sido realizada naquele tempo e, se o povo judeu tivesse acreditado em Jesus, a vontade de Jesus teria sido realizada durante sua vida. Neste caso também, se Caim tivesse estabelecido a condição de indenização para eliminar a natureza decaída obedecendo a Abel, tanto Caim como Abel teriam podido colocar-se na posição de terem estabelecido a condição de indenização para eliminar a natureza decaída, enquanto eram crianças. Já que Caim e Abel eram seres substanciais derivados da divisão de Adão, que era a fonte do bem e do mal, Adão, como pai, podia ter-se colocado sobre o fundamento de substância de ter-se separado de Satanás, se eles se tivessem separado de Satanás, estabelecendo a condição de indenização para remover a natureza decaída. Daí, o fundamento para receber o Messias podia ter sido estabelecido na família de Adão. Desta maneira, a condição de indenização para restaurar os pais podia ser feita através da oferta simbólica e da oferta substancial.

Neste ínterim, Abel ofereceu um sacrifício aceitável. Assim, a condição para restaurar por indenização o fundamento de fé, centralizada em Adão, e a posição de Abel como a figura central para oferecer a oferta substancial, foram estabelecidas com bom êxito. Contudo, pelo ato de ter Caim matado Abel, caíram novamente no mesmo estado em que ficaram o arcanjo e Eva, quando caíram. Portanto, a oferta substancial foi um fracasso. Não conseguiram estabelecer a condição de indenização para eliminar a natureza decaída. Assim também fracassaram em assentar o fundamento de substância. Isto os impediu de estabelecer o fundamento para receber o Messias. Como conseqüência, a providência da restauração centralizada na família de Adão resultou em nada.

 

4. Lições Aprendidas da Família de Adão

Primeiro: o fracasso da providência da restauração centralizada na família de Adão nos demonstrou a predestinação de Deus para a realização da Vontade e Sua atitude para com a porção de responsabilidade do homem. Originalmente, a predestinação de Deus com respeito à Vontade devia ser realizada somente quando se pudessem combinar Sua porção de responsabilidade com a porção de responsabilidade do homem. Deus não podia instruir Caim e Abel sobre como oferecer sacrifícios, porque a decisão de Caim de oferecer ou não sacrifícios através de Abel era sua porção de responsabilidade.

Segundo: depois que Caim matou Abel, Deus operou Sua providência por meio de Set. Isto nos demonstrou que a predestinação de Deus para a Vontade é absoluta, ao passo que Sua predestinação para que o homem cumpra a Vontade é relativa. Deus predestinou de tal modo que, correspondendo à Sua porção de responsabilidade, Abel cumprisse sua própria porção de responsabilidade, e, assim, se tornasse a figura central para a oferta substancial. Por isso, quando Abel falhou em cumprir sua porção de responsabilidade, Deus, estabelecendo a Set em seu lugar, tencionava realizar a Vontade, que estava predestinada como absoluta.

Terceiro: as ofertas de Caim e Abel nos demonstraram que qualquer homem decaído pode cumprir a vontade de Deus quando encontra uma pessoa de tipo Abel e lhe obedece em completa submissão.

Entretanto, a providência, idêntica àquela que Deus tencionava realizar na família de Adão, tem-se repetido desde aquela época, devido às repetidas falhas provenientes da falta de fé do homem. Conseqüentemente, isto persiste como o nosso próprio curso de indenização hoje. A providência da restauração, centralizada na família de Adão, é uma lição viva para nós, mostrando-nos o curso típico a seguir.

 

SEÇÃO II

 

Providência da Restauração

Centralizada na Família de Noé

A providência da restauração centralizada na família de Adão não foi realizada porque Caim matou a Abel. Não obstante, já que a vontade de Deus para cumprir a finalidade da criação era absoluta e imutável, Ele estabeleceu a Set no lugar de Abel, sobre a base de que Abel tinha sido leal e filial de coração (Gn 4.25).

Assim, dentre seus descendentes Deus escolheu a família de Noé em substituição à família de Adão, e recomeçou Sua providência. Como Deus disse:

"O fim do toda a carne é vindo perante a minha face, porque a terra está cheia de violência; e eis que os destruirei com a terra."

(Gn 6.13)

Ele executou o juízo pelo dilúvio. Isto demonstra claramente que naquela época eram também os Últimos Dias. O motivo é que Deus tencionava realizar a finalidade da criação enviando o Messias, sobre o fundamento feito pela família de Noé, depois do dilúvio. A família de Noé devia ter criado a condição de indenização para restaurar o fundamento de fé e, baseada naquilo, devia ter estabelecido a condição de indenização para restaurar o fundamento de substância. Fazendo estas coisas, a família de Noé devia ter restaurado por indenização o fundamento para receber o Messias, que a família de Adão tinha falhado em fazer.

 

1. FUNDAMENTO DE FÉ

(1) Figura Central para Restaurar o Fundamento de Fé

Na providência da restauração centralizada na família de Noé, a figura central para restaurar o fundamento de fé era Noé. Deus chamou Noé depois de dez gerações, ou 1.600 anos depois de Adão, a fim de realizar a Vontade, que tinha terminado em fracasso com Adão. Por isso Deus abençoou Noé para frutificar e multiplicar-se (Gn 9.7), assim como tinha feito com Adão (Gn 1.28). Neste sentido, Noé é o segundo antepassado humano.

Noé foi chamado quando a Terra estava cheia de violência por causa dos homens (Gn 6.11), e ele trabalhou na construção da arca durante 120 anos, na montanha, em obediência ao mandamento de Deus, apesar de todo o escárnio e zombaria do povo. Baseado nesta condição, Deus podia decidir-se a julgar a terra com o dilúvio, centralizando-se na família de Noé. Sob este aspecto, Noé é o primeiro pai da fé. Sabemos que Abraão é o pai da fé, mas originalmente devia ser Noé. Devido ao ato pecaminoso de seu filho Cam, a missão de Noé como pai da fé foi transferida a Abraão. Adão devia ser a figura central para restaurar o fundamento de fé, mas, devido ao motivo antes mencionado, ele não pôde oferecer sacrifícios. No entanto, Noé foi chamado sobre a base de Abel ter sido fiel e filial ao oferecer aceitavelmente os sacrifícios simbólicos. Ademais, do ponto de vista de sua linhagem, ele era descendente de Set (Gn 4.25), chamado em lugar de Abel. E mais ainda, era um homem justo aos olhos de Deus (Gn 6.9). Por isso ele podia oferecer sacrifícios simbólicos diretamente, construindo a arca em obediência à vontade de Deus.

 

(2) Objetos Condicionais para Restaurar o Fundamento de Fé

Para Noé, a arca era o objeto condicional pelo qual o fundamento de fé podia ser restaurado. O que significava a arca? Para que Noé se colocasse na posição de Adão, como segundo antepassado humano, tinha que estabelecer a condição para restaurar por indenização todo o universo, que estava sob o controle satânico devido à queda de Adão. Conseqüentemente, ele tinha que oferecer como sacrifícios, aceitáveis perante Deus, certos objetos condicionais que simbolizavam o novo universo. A arca era seu objeto condicional.

A arca era constituída de três andares, simbolizando o universo criado através dos três estágios de crescimento. Os oito membros da família de Noé, que entraram na arca, deviam restaurar por indenização os oito membros da família de Adão, que caíram no seio de Satanás. Sendo a arca o símbolo de todo o universo, o senhor da arca, Noé, simbolizava Deus. Sua família simbolizava a humanidade, e os animais simbolizavam todas as coisas.

Qual era a finalidade do julgamento divino de 40 dias de dilúvio, executado por Ele depois do término da arca? De acordo com o Princípio da Criação, o homem foi feito para servir a um só senhor. Deus não podia operar Sua providência em um reino fora do Princípio, tratando com a humanidade quando o homem estava sob Satanás, devido à sua concupiscência.

Por isso Deus executou a providência do julgamento pelo dilúvio para destruir os homens sujeitos a Satanás, e estabelecer os objetos por meio dos quais Ele pudesse executar Sua providência. Por que Ele decidiu Seu juízo de 40 dias? Como discutiremos mais adiante (cf. Parte II, Capítulo III, Seção II, 4), o número "dez" é o número da unidade. Por conseguinte, Deus estabeleceu Noé dez gerações depois de Adão, para restaurar por indenização a Vontade deixada sem cumprir por causa da queda de Adão. Ele estabeleceu o período de indenização para restaurar o número "dez" na segunda tentativa de obter a unificação. Através das dez gerações até Noé, Deus também continuou Sua providência de estabelecer cada geração como o período de indenização para restaurar o número "quatro", a fim de realizar a finalidade do fundamento de quatro posições. Conseqüentemente, o período de Adão até Noé foi o período de indenização para restaurar o número "40". Devido à concupiscência do povo daquela época, o período de indenização para o número "40" foi invadido por Satanás. Para que Deus pudesse recomeçar Sua providência para realizar o fundamento de quatro posições por meio da arca de Noé, Ele tencionava restaurar o fundamento de fé estabelecendo o período de julgamento de 40 dias como o período de indenização para restaurar o número "40" invadido por Satanás.

Deste modo, o número "40" tornou-se necessário como o número para separar Satanás para, mais tarde, restaurar o fundamento de fé no curso providencial da restauração por indenização. Por exemplo, vemos muitos casos comparáveis ao julgamento de 40 dias nos dias de Noé; o período de 400 anos de Noé até Abraão; os 400 anos de escravidão dos israelitas no Egito; os 40 anos vagando no deserto; o jejum de 40 dias de Moisés; 40 anos de governo por cada um dos reis, Saul, Davi e Salomão; o Jejum de 40 dias de Elias; a predição por Jonas da destruição de Nínive em 40 dias; o jejum e oração de 40 dias de Jesus; e seu período de ressurreição de 40 dias. Todos estes são períodos de indenização para a separação de Satanás.

Lemos também na Bíblia que, depois do julgamento, Noé enviou da arca um corvo e um pombo. Investiguemos que espécie de providência para o futuro Deus prefigurou através disto, pois Deus disse: "Certamente o Senhor Deus não faz coisa alguma sem revelar o Seu segredo a Seus servos os profetas" (Am 3.7). O período de 40 dias do julgamento como condição de indenização para restaurar o universo corresponde ao período de caos (Gn 1.2). Por isso, todas as coisas centralizadas na arca, depois dos 40 dias, são a representação simbólica de todo o curso da história, depois que Deus completou Sua criação do Céu e da Terra.

O que Deus prefigurou pelo ato de enviar um corvo da arca (Gn 8.6-7), que ficou voando até que as águas secaram? Isto indicava que Satanás estava à porta da família de Noé, mesmo depois do dilúvio, para lá espiar sobre as condições de invasão, tal como o arcanjo esperou uma oportunidade para conquistar o amor de Eva logo depois da criação do homem, e tal como Satanás buscou a oportunidade de invadir Caim e Abel quando ofereciam sacrifícios (Gn 4.7).

Então, o que Deus prefigurou quando Noé, por três vezes, enviou o pombo da arca? Está registrado na Bíblia que o pombo foi enviado para verificar se as águas tinham baixado. Contudo, se esse fosse o único objetivo, podemos pensar que o próprio Noé poderia olhar pela janela e informar-se sobre aquilo, em vez de enviar o pombo. Portanto, podemos imaginar que o objetivo ao enviá-lo era algo mais importante do que ver se as águas tinham baixado.

Devemos compreender o significado da Providência de Deus nessa situação. Sete dias depois que Deus anunciou o julgamento do dilúvio através de Noé (Gn 7.10), veio a inundação. Foi depois do período de julgamento de 40 dias que Noé enviou o pombo pela primeira vez. Diz a Bíblia que o pombo ia e vinha sobre as águas, mas, não encontrando lugar algum onde colocar os pés, voltou para a arca, e Noé levou-o para a arca (Gn 8.9). O primeiro pombo simbolizava o primeiro Adão. Por isso, o relato significa que Deus criou o homem sobre a Terra de forma que o Seu ideal da criação, que já estava n’Ele mesmo antes da criação, pudesse realizar-se em Adão, como a perfeita encarnação. No entanto, devido à queda de Adão, Deus não pôde realizar Seu ideal da criação na Terra por meio de Adão, de forma que teve que retirar Seu ideal da Terra temporariamente e postergou a realização da Sua vontade.

Sete dias mais tarde Noé enviou o pombo pela segunda vez. Ele não conseguiu pôr seus pés sobre a terra porque as águas ainda não haviam secado. Voltou à arca com uma folha de oliveira no bico, significando que na próxima vez seria capaz de pousar (Gn 8.10-11). O segundo pombo simbolizava Jesus, como o segundo Adão, que viria como a perfeita encarnação do ideal da criação. Portanto, este segundo relato significa que Jesus viria à Terra a fim de cumprir a providência da restauração. No entanto, caso houvesse falta de fé por parte do povo judeu, ele voltaria ao seio de Deus, através da cruz, deixando a promessa de voltar porque, não tendo lugar algum onde "colocar seus pés", não poderia realizar a Vontade na Terra. De fato, este prenúncio indica que, se as águas se tivessem secado de forma que o pombo pudesse pousar e encontrar algo para comer, ele não teria que voltar para a arca, mas teve que voltar porque as águas ainda não haviam secado. De modo semelhante, isto indica que, se o povo judeu tivesse acreditado em Jesus e servido a ele, ele não teria morrido, e teria podido realizar o Reino do Céu na Terra naquela época. No entanto, caso houvesse falta de fé nele, Jesus teria que morrer na cruz e voltar mais tarde, em um tempo mais favorável.

Depois de outros sete dias, Noé soltou o pombo pela terceira vez. Está escrito que dessa vez o pombo não voltou para a arca, porque as águas já haviam secado (Gn 8.12). O terceiro pombo simbolizava o Senhor do Segundo Advento, que viria como o terceiro Adão. Conseqüentemente, este relato indica que, quando Cristo voltar, poderá realizar o ideal da criação de Deus na Terra, sem falta, de forma que o ideal jamais terá que voltar para o seio de Deus. Quando Noé viu que o terceiro pombo não voltou, desceu então da arca à terra e começou a desfrutar do novo céu e nova terra. Isto anuncia que, quando o ideal da criação for realizado na Terra por meio do terceiro Adão, então a nova Jerusalém descerá do Céu e a morada de Deus estará entre os homens (Ap 21.1-3).

O relato de ter enviado o pombo três vezes mostra-nos que, como ficou esclarecido no capítulo sobre a predestinação, a providência da restauração de Deus podia ser prolongada caso o homem, que é o objeto da providência, não pudesse cumprir sua porção de responsabilidade. Isto prefigurou que, devido à falha de Adão em cumprir sua responsabilidade, por causa de sua falta de fé, Cristo teria que vir como o segundo Adão e que, se o povo judeu não cumprisse sua responsabilidade por sua falta de fé Jesus teria que morrer na cruz e assim Cristo teria que voltar como o terceiro Adão. O período de sete dias, aqui, nos indica que, assim como a criação de Deus durou sete dias, assim também será necessário certo período na providência para restaurar o elemento perdido. Entretanto, a família de Noé pôde restaurar por indenização o fundamento de fé, estabelecendo aceitavelmente a arca como a condição para restaurar o fundamento, por meio do julgamento de 40 dias.

 

2. FUNDAMENTO DE SUBSTÂNCIA

Noé restaurou por indenização o fundamento de fé, ao ter êxito em fazer a oferta simbólica da arca aceitável a Deus. Por meio disso, Noé estabeleceu, ao mesmo tempo, a condição de indenização para a restauração de todas as coisas criadas e também a condição de indenização para a restauração dos homens, em termos simbólicos. Logo, se os filhos de Noé, Sem e Cam, tivessem tido êxito na oferta substancial, estabelecendo a condição de indenização para eliminar a natureza decaída nas respectivas posições de Caim e Abel, o fundamento de substância poderia ter sido estabelecido naquele tempo.

Para que a família de Noé oferecesse a oferta substancial aceitavelmente, depois do sucesso na oferta simbólica, o segundo filho, Cam, que era a figura central para a oferta substancial, devia ter restaurado a posição do segundo filho Abel, que tinha sido a figura central para a oferta substancial na família de Adão. No caso da família de Adão, Abel, o filho, ofereceu a oferta simbólica em lugar de Adão. Por isso, quando teve êxito naquela oferta, Abel pôde restaurar por indenização o fundamento de fé, sendo, ao mesmo tempo, destinado a ser a figura central para a oferta substancial. Contudo, no caso da família de Noé, o próprio Noé ofereceu um sacrifício simbólico. Para que Cam se colocasse na posição de Abel, que teve êxito na oferta simbólica, devia permanecer numa posição de unidade inseparável com o coração e sentimento de Noé, que teve êxito na oferta simbólica. Examinemos então como Deus operou Sua providência a fim de fazer com que Cam se colocasse na posição de unidade inseparável com o coração e sentimento de Noé.

Lemos (Gn 9.20-26) que Cam, ao ver seu pai deitado nu na tenda, não somente se envergonhou dele, mas também sentiu descontentamento com aquilo e que ele suscitou o mesmo sentimento entre seus irmãos, Sem e Jafé. Eles, pois, também foram agitados por Cam com a mesma emoção, sentindo-se envergonhados da nudez de seu pai e, num esforço para não verem esta cena, viraram seus rostos e caminharam para trás, a fim de cobrirem o corpo de seu pai com uma vestimenta. Contudo, isto foi um crime tão grande que Noé amaldiçoou Cam dizendo que seu filho Canaã seria um escravo de seus irmãos.

Por que Deus operou Sua providência desta forma, e por que o sentimento de vergonha da nudez de Noé foi tão grande pecado? Para compreender isso, determinemos primeiro o que é pecado. Satanás não pode emitir a força da existência e ação a menos que encontre um objeto com o qual forme uma base correlativa sobre a qual tenha uma relação de dar e receber. Portanto, sempre que um ser estabelece uma condição para que Satanás invada e se torna um objeto com o qual Satanás possa trabalhar, é criado um pecado.

A seguir, devemos compreender porque Deus provou a Cam por meio da nudez de Noé. Já dissemos que a arca simbolizava todo o universo e que todas as coisas feitas imediatamente depois da oferta aceitável da arca, através do julgamento de 40 dias, simbolizavam, conseqüentemente, todas as coisas desde a criação do universo. Desta forma, a posição de Noé logo depois do julgamento de 40 dias era idêntica à de Adão depois da criação do universo.

Podemos imaginar perfeitamente como Adão e Eva eram espontâneos e afetuosos um com o outro depois da criação e como eram francos e abertos perante Deus. Podemos deduzir isto do fato de que eles não tinham sentimento de vergonha, embora estivessem nus (Gn 2.25). Depois da queda, porém, envergonharam-se da nudez de suas partes inferiores, cobriram-nas com folhas de figueira e ocultaram-se de Deus, temendo que Ele pudesse vê-los (Gn 3.7). Portanto, o ato de se sentirem envergonhados de suas partes inferiores era a expressão de seus sentimentos, devido à relação de sangue com Satanás, cometida por meio de suas partes inferiores. A ação de ocultar-se, cobrindo suas partes inferiores, era a expressão de sua consciência culpada, que os dissuadia de apresentarem-se perante Deus, depois de sua relação de sangue com Satanás.

Noé, na posição de separação de Satanás por meio do julgamento de 40 dias, devia ter-se colocado na posição de Adão logo depois da criação do universo. Nesse caso, Deus queria restaurar por indenização o coração e o sentimento de alegria que Ele tinha experimentado ao ver o inocente homem nu, sem encobrimento, antes que cometesse o pecado, vendo que a família de Noé não se sentia envergonhada nem procurava esconder-se à vista da nudez de Noé. Deus fez com que Noé se deitasse nu a fim de cumprir essa tão profunda Vontade. Conseqüentemente, Cam podia ter estabelecido a condição de indenização para restaurar a posição da família de Adão, que nunca tinha conhecido vergonha alguma antes do primeiro pecado, sobre a base da unidade inseparável de Cam com Noé, através do ato de tratar com Noé sem nenhum sentimento de vergonha, isto é, da mesma posição e coração de Deus.

Contudo, os filhos de Noé ficaram envergonhados da nudez de seu pai e cobriram-no com uma vestimenta, indicando assim que eles não podiam aparecer perante Deus porque estavam envergonhados de sua relação de sangue com Satanás, como foi o caso na família de Adão após a queda. Por isso Satanás, que estava observando se havia alguma condição para invadir a família de Noé, como foi prefigurado por um corvo, invadiu os filhos de Noé como seus objetos, pois eles tinham demonstrado que eram descendentes diretos de Satanás.

Desta maneira, o ato de Cam ao envergonhar-se da nudez de seu pai tornou-se um pecado, pois criou uma condição para que Satanás o invadisse. Assim, Cam falhou em restaurar por indenização a posição de Abel, da qual podia oferecer um sacrifício substancial e fracassou em estabelecer o fundamento de substância. Portanto, a providência da restauração centralizada em Noé terminou em fracasso.

Seria um pecado o fato de alguém se envergonhar de sua nudez? Não. Noé tinha a missão de eliminar todas as condições que permitiram a Satanás invadir, porque Noé estava substituindo Adão. Portanto, a família de Noé devia ter estabelecido a condição de indenização para restaurar a posição da família de Adão antes da relação de sangue com Satanás, demonstrando que não se envergonhavam da nudez e assim não se preocupariam em cobri-la. Por conseguinte, a condição de indenização que demonstrava que eles não se envergonhavam da nudez nem se preocupariam em cobri-la era uma condição que somente a família de Noé podia estabelecer, pois a família de Noé estava na posição da família de Adão.

 

3. LIÇÕES APRENDIDAS DA FAMÍLIA DE NOÉ

Não é fácil entender porque Noé construiu uma arca na montanha durante 120 longos anos. Cam sabia que a família de Noé fora salva devido aos labores de seu pai, labores pelos quais ele tinha recebido zombarias e críticas. Considerando todas estas coisas, Cam deveria ter visto as obras de seu pai como boas e significativas, embora estivesse descontente com sua nudez.

Em vez de confiar em Noé, que estava do lado de Deus, Cam o criticou de uma perspectiva egocêntrica e mostrou seu descontentamento em sua ação. Por isso a providência centralizada na família de Noé, que Deus tinha estabelecido exercendo o julgamento pelo dilúvio de 40 dias, 1.600 anos após Adão, terminou em fracasso. Isto nos demonstra que precisamos de paciência e obediência para percorrermos o caminho do Céu.

Ademais, a providência de Deus por meio da família de Noé nos mostra a atitude de Deus com respeito à predestinação e ao cumprimento da responsabilidade do homem. Sabemos bem que a família de Noé foi aquela que Deus fundou depois de 1.600 anos de procura, que Ele dirigiu durante 120 anos até que Noé terminasse a arca, e que Ele manteve intacta com o sacrifício de toda a humanidade pelo dilúvio de 40 dias. Contudo, quando Satanás invadiu a família por meio do erro de Cam, Deus abandonou sem reserva toda a família, que era objeto de Sua providência de restauração, e assim Sua providência centralizada na família de Noé terminou em fracasso.

Além disto, a providência por meio da família de Noé nos oferece o modelo da predestinação de Deus para o homem. Não devemos nos esquecer que, apesar de ter Ele encontrado Noé como o pai da fé depois de um período tão longo, Deus abandonou sua família uma vez que ela falhou no cumprimento de sua porção de responsabilidade, e elegeu a família de Abraão em seu lugar.

 

SEÇÃO III

Providência da Restauração

Centralizada na Família de Abraão

Devido ao ato decaído de Cam, não se cumpriu a providência da restauração centralizada na família de Noé. Contudo, já que a intenção de Deus era predestinar de modo absoluto e cumprir a vontade de realizar Sua finalidade da criação, Ele chamou Abraão no fundamento de coração e zelo que tinha estabelecido com sua lealdade e começou de novo Sua providência da restauração centralizando-se na família de Abraão.

Portanto Abraão deveria ter restaurado o fundamento para receber o Messias, que a família de Noé tinha deixado inacabado, e deveria de fato ter recebido o Messias sobre esse fundamento. Conseqüentemente, Abraão também deveria ter restaurado por indenização o fundamento de fé e, sobre ele, deveria ter restaurado por indenização o fundamento de substância.

 

1. FUNDAMENTO DE FÉ

(1) Figura Central Para Restaurar o Fundamento de Fé

A figura central para restaurar o fundamento de fé na providência da restauração centralizada na família de Abraão foi o próprio Abraão. Por isso Abraão foi escolhido como o personagem central para herdar por sucessão e realizar a vontade de Deus. Portanto, se Abraão não restaurasse por indenização todas as condições invadidas por Satanás devido ao ato pecaminoso de Cam, falharia em levar a cabo a vontade de Deus centralizada em Noé, cujo curso ele tinha sido escolhido para realizar.

A primeira condição que Noé perdeu para Satanás foi as dez gerações de Adão até Noé, como também os 40 dias. Portanto, Abraão devia ter restaurado por indenização essas dez gerações perdidas. Ele então teria se colocado na posição de cada uma das dez, tendo restaurado o número "40" para o julgamento. O cálculo de 40 anos para cada geração a ser restaurada por indenização teve origem devido à falha de uma geração (a de Noé) em ser restaurada por um período de 40 dias. Mais tarde, no curso de Moisés, os israelitas restauraram por indenização a falha na espionagem de 40 dias em Canaã, pelo período de 40 anos vagando no deserto (Nm 14.34). Deus elegeu Abraão em lugar de Noé depois do lapso de 400 anos de indenização através de dez gerações, depois de Noé. Deste modo, encurtando a duração da vida humana depois de Noé, a era em que dez gerações seriam restauradas durante um período de 1.600 anos foi mudada para uma era em que as dez gerações podiam ser restauradas durante um período de 400 anos.

A segunda condição que Noé teve que perder para Satanás foi a posição de pai da fé, como também a posição de Cam, que estava em lugar de Abel. Portanto, Abraão não podia colocar-se na posição de Noé, a menos que restaurasse por indenização a posição de Cam e a de pai da fé. Para que Abraão se colocasse na posição de pai da fé, substituindo Noé, devia oferecer um sacrifício simbólico com fé e lealdade, tal como Noé ao construir a arca.

Como dissemos anteriormente, Deus teve também que abandonar Cam nas mãos de Satanás; Cam estava em lugar de Abel, a quem Deus amava (ambos eram segundos filhos, desempenhando os papéis centrais nas ofertas substanciais). Por isso Deus, por Sua vez, tinha que tomar aqueles que estavam na posição de serem muito amados por Satanás, de acordo com o princípio da restauração por indenização. É por isto que Deus chamou Abraão, o primogênito de Terá, que era fabricante de ídolos (Js 24.2-3).

Abraão era o personagem do Adão restaurado, porque era o substituto de Noé, e, naturalmente, do próprio Adão. Deste modo, Deus abençoou Abraão dizendo que seus descendentes se multiplicariam, que uma grande nação procederia dele e que ele seria a fonte de bênção, tal como havia antes abençoado Adão e Noé (Gn 12.2). Depois desta bênção, Abraão, em obediência ao mandamento de Deus, partiu da casa de seu pai em Harã e foi para Canaã com sua esposa Sara, seu sobrinho Lot e todas as riquezas e pessoas que pôde levar de sua terra natal (Gn 12.4-5). Deste modo, Deus estabeleceu o curso de Abraão como o curso típico para Jacó e Moisés em épocas posteriores; isto é, restaurar Canaã levando para lá sua esposa, filhos e riquezas, sendo que todos foram retirados do mundo satânico (Harã ou Egito) sob circunstâncias difíceis.

Este curso prefigurou o curso de Jesus em dias futuros, isto é, restaurar para o mundo de Deus todos os homens e coisas tomadas do mundo satânico (cf. Parte II, Capítulo II, Seção I, 2).

 

(2) Objetos Condicionais para Restaurar o Fundamento de Fé

(i) A Oferta Simbólica de Abraão

Deus ordenou que Abraão oferecesse os sacrifícios de um pombinho, um cordeiro e uma novilha, sendo tudo isto objetos condicionais para restaurar o fundamento de fé (Gn 15.9). Assim como Noé estabeleceu sua fé antes de oferecer o sacrifício simbólico da arca, assim também Abraão tinha primeiro que estabelecer sua fé, antes de oferecer seu sacrifício simbólico. A Bíblia não contém nenhum relato preciso de como Noé fez isto. Contudo, a Bíblia diz que Noé era um homem justo (Gn 6.9), e podemos imaginar que ele deve ter estabelecido certas condições de fé antes que fosse suficientemente justo aos olhos de Deus, para que recebesse o mandamento divino de construir a arca. De fato, a providência da restauração deve realizar-se por meio da fé, porque a fé e o que é justo por meio da fé são reconhecidos por Deus (Rm 1.17). Investiguemos agora que espécie de fé Abraão estabeleceu antes de oferecer seu sacrifício simbólico.

Abraão tinha que restaurar a posição de Noé, o segundo antepassado humano. Tinha também que colocar-se na posição de Adão. Por isso tinha primeiro que estabelecer a condição simbólica de indenização para a restauração da posição da família de Adão, antes de oferecer o sacrifício simbólico.

De acordo com os versículos bíblicos (Gn 12.10), certa vez Abraão foi ao Egito por causa de uma fome. Quando o Faraó do Egito quis tomar sua esposa Sara, Abraão, conforme tinha planejado de antemão, disse ao Faraó que ela era sua irmã, por medo de que o rei o matasse, caso descobrisse que eram marido e mulher. Deste modo, Sara foi tomada pelo Faraó na posição de irmã de Abraão, e depois do castigo que Deus impôs ao Faraó, Abraão tomou de volta sua mulher e também seu sobrinho Lot, assim como muitas riquezas. Abraão seguiu este curso providencial, embora inconscientemente, a fim de estabelecer a condição simbólica para restaurar por indenização a posição da família de Adão.

O arcanjo tomou Eva enquanto Adão e Eva ainda estavam na posição de irmão e irmã, em sua imaturidade, forçando assim todas as coisas criadas, como também seus filhos, a estarem sob seu domínio. Para que Abraão estabelecesse a condição para restaurar por indenização a situação mencionada acima, ele foi despojado pelo Faraó, que simbolizava Satanás, de sua esposa Sara, que estava na posição de irmã de Abraão. Ele então tinha que tomar de volta Sara, na posição de sua esposa, juntamente com Lot, simbolizando toda a humanidade, e suas riquezas, que simbolizavam o mundo da criação (Gn 14.16). O curso de Abraão, pois, era o curso no qual Jesus deveria caminhar em dias posteriores. Foi só depois de ter estabelecido tal condição de indenização que Abraão pôde oferecer o sacrifício simbólico com o pombinho, o cordeiro e a novilha.

Que significa, então, o sacrifício simbólico de Abraão? Para que Abraão se tornasse o pai da fé, teria que restaurar por indenização a posição de Noé, a quem Deus tentou estabelecer como o pai da fé, e a de sua família. Naturalmente, teria que se colocar também na posição de Adão e sua família. Assim, ele teria que oferecer um, objeto condicional como um símbolo que lhe permitisse restaurar por indenização todas as coisas que deviam ser restauradas na família de Adão, centralizando-se nas ofertas de Caim e Abel. Além disto, teria que oferecer, como sacrifícios aceitáveis perante Deus, certos objetos simbólicos para restaurar por indenização todas as coisas que deviam ser restauradas centralizando-se na arca da família de Noé. As ofertas simbólicas de Abraão eram de tal natureza.

Que simbolizavam, então, os sacrifícios simbólicos de Abraão, isto é, o pombinho, o cordeiro e a novi1ha? Estas três ofertas simbólicas simbolizavam todo o universo, que fora criado para ser aperfeiçoado através dos três estágios de crescimento.

Primeiro, o pombinho simbolizava o estágio de formação. Jesus veio como a perfeição da providência no estágio de formação, que era representado pelo pombinho. Portanto, quando ele foi batizado por João Batista no rio Jordão, o Espírito de Deus desceu como um pombinho, pousando nele (Mt 3.16). Por outro lado, Jesus veio para restaurar a falha de Abraão na oferta. Naturalmente, ele tinha que estar na posição de ter restaurado o pombinho, que foi invadido por Satanás naquele tempo. Por isso Deus indicou pelo pombinho que Jesus veio como a perfeição da providência do Velho Testamento, no estágio de formação.

Em segundo lugar, a cabra ou cordeiro simbolizavam o estágio de crescimento. Jesus veio para restaurar a falha de Abraão na oferta. Sobre o fundamento da providência do Velho Testamento, tendo restaurado todas as coisas simbolizadas pelo pombinho, ele tinha também que restaurar todas as coisas simbolizadas pela cabra ou cordeiro, como o iniciador da providência do Novo Testamento, no estágio de crescimento. Um dia depois de ter João Batista dado testemunho que Jesus era a perfeição da providência no estágio de formação, simbolizada pelo pombinho, ele novamente deu testemunho sobre Jesus como o iniciador da missão do estágio de crescimento. Quando viu Jesus aproximando-se dele, disse: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29).

A novilha simbolizava a perfeição. Lemos em Juizes 14.18 que, quando Sansão propôs um enigma aos filisteus, estes só conseguiram dar a resposta fazendo com que a mulher de Sansão o tentasse e o importunasse para conseguir a resposta. Disse-lhes, pois, Sansão: "Se vós não tivésseis lavrado com minha novilha, nunca teríeis descoberto meu enigma". Deste modo, Sansão, metaforicamente, chamou sua esposa de novilha. Tendo Jesus vindo como noivo de toda a humanidade, todos os santos, até a época do Segundo Advento, se tornam uma "noiva" de Jesus, o noivo que virá. Contudo, depois do banquete das bodas do Cordeiro, quando todos os santos, como a noiva, se unem em perfeita união com o Senhor, viverão todos no Reino Celeste de Deus, com Cristo como esposo e cada um não apenas como noiva, mas como esposa. Portanto, devemos saber que a Idade do Completo Testamento, depois do Segundo Advento do Senhor, é a idade da novilha: a idade da esposa. A novilha simboliza, pois, o aperfeiçoamento. É por isto que muitas pessoas espiritualmente sensíveis recebem a revelação de que hoje é a idade da vaca ou novilha.

Que restauram, pois, por indenização as três espécies de oferta? Abraão, por meio de suas ofertas simbólicas, tinha que estabelecer a condição simbólica de indenização que lhe possibilitasse restaurar por indenização todas as coisas anteriormente deixadas nas mãos de Satanás, devido aos fracassos da restauração por indenização pelos sacrifícios simbólicos e ofertas substanciais das famílias de Adão e Noé. Portanto, a oferta simbólica de Abraão era para restaurar de uma só vez, horizontalmente, pelas três espécies de oferta, a condição simbólica de indenização da providência vertical através das três gerações de Adão, Noé e Abraão.

Abraão ofereceu sacrifícios com o pombinho, o cordeiro e a novilha no altar, simbolizando os três estágios de formação, crescimento e aperfeiçoamento, a fim de realizar, de uma só vez, em termos horizontais, a providência vertical que Deus tencionava restaurar por indenização através das três gerações (do ponto de vista de Sua vontade): Adão simbolizando a formação, Noé simbolizando o crescimento e Abraão simbolizando o aperfeiçoamento. Portanto, esta oferta representava simbolicamente a vontade de Deus de realizar, de uma só vez, a totalidade da providência da restauração, restaurando por indenização todas as condições representadas pelo número "três", que tinham sido invadidas por Satanás.

Agora devemos saber de que maneira Abraão ofereceu o sacrifício simbólico. Lemos (Gn 15.10-13) que Abraão dividiu as ofertas pelo meio e pôs cada metade em frente da outra, mas não dividiu as aves pelo meio. Daí, aves de rapina desceram sobre os corpos mortos e Abraão as enxotou. Deus apareceu a Abraão naquela tarde, ao pôr do sol, e lhe disse:

"Tem por certo que teus descendentes habitarão como peregrinos em uma terra que não é sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos anos..." (Gn 15.13)

As aves de rapina desceram sobre os corpos mortos, porque Abraão não dividiu pelo meio as aves. Isto teve como efeito o sofrimento dos israelitas por 400 anos de escravidão no Egito.

Por que foi tamanho pecado o fato de não dividir o pombinho? Esta pergunta permaneceu sem resposta até nossos dias e só pode elucidar-se por meio do Princípio. Estudemos primeiro a razão para dividir os sacrifícios. A finalidade da providência da salvação é restaurar a soberania do bem separando o bem e o mal mediante a destruição do mal e a exaltação do bem. Portanto, quando Deus ordenou que sacrifícios fossem oferecidos, depois de ter separado Adão em Caim e Abel, e quando Ele feriu o mal e exaltou o bem através do julgamento do dilúvio na época de Noé, Seu propósito era, sem exceção, restaurar a soberania do bem. Conseqüentemente, Deus se propôs a realizar os desempenhos simbólicos de separar o bem e o mal, o que Ele não tinha conseguido realizar por meio de Adão e Noé, fazendo com que Abraão oferecesse os sacrifícios divididos pelo meio.

O ato de dividir os sacrifícios pelo meio era, em primeiro lugar, para restaurar a posição separada de Caim e Abel na família de Adão, a fim de separar Adão, a origem do bem e do mal, em duas partes, representando respectivamente o bem e o mal. Em segundo lugar, para restaurar a posição de Noé, tendo separado o bem e o mal por meio do dilúvio de 40 dias. Em terceiro lugar, para estabelecer a condição simbólica de separar o mundo da soberania do bem do mundo sob o domínio de Satanás. E em quarto lugar, para estabelecer a condição de consagração, retirando o sangue da morte, que tinha vindo através da relação ilícita de sangue.

Por que, então, foi tamanho pecado o fato de não dividir o sacrifício pelo meio?

Primeiro, aquilo era análogo a não ter separado Caim e Abel; por isso, como resultado, não havia objeto de tipo Abel que Deus pudesse tomar. Portanto, o sacrifício era inaceitável a Deus, e a falha no sacrifício de Caim e Abel não foi restaurada.

Segundo, aquilo representava não ter separado o bem e o mal no tempo do julgamento pelo dilúvio, na providência da restauração centralizada em Noé; como resultado, não havia objeto do bem que Deus pudesse tomar e sobre o qual pudesse operar Sua providência. Portanto, aquilo resultou em ter tomado a posição de insucesso, tal como o julgamento pelo dilúvio fracassou.

Terceiro, aquilo significava a falha em estabelecer a condição simbólica de separar o mundo da soberania do bem do mundo sob o domínio de Satanás, para Deus poder aceitar.

Em quarto lugar, o sacrifício não foi consagrado, porque o sangue da morte não foi retirado, e não podia ser uma coisa consagrada que Deus pudesse tomar e sobre a qual pudesse operar Sua providência. Desta maneira, o fato de Abraão ter oferecido os sacrifícios sem ter dividido o pombinho pelo meio resultou em ter oferecido uma propriedade de Satanás, por assim dizer e portanto a oferta terminou na afirmação de que era uma propriedade de Satanás.

Assim o pombo, que era a oferta simbolizando o estágio de formação, permaneceu na posse de Satanás. O cordeiro e a novilha, simbolizando o crescimento e aperfeiçoamento, que deviam ser estabelecidos no fundamento da formação, foram então invadidos por Satanás. Conseqüentemente, toda a oferta simbólica terminou sob Satanás, e o ato de não ter dividido o pombo pelo meio tornou-se um pecado.

Investiguemos agora o significado das aves de rapina que pousaram sobre a oferta simbólica (Gn 15.11). Desde a queda dos primeiros antepassados humanos, Satanás tem estado sempre perseguindo aos que defendem a vontade de Deus. Quando Caim e Abel ofereceram sacrifícios, Satanás estava à porta (Gn 4.7); e na época de Noé, também o corvo simbolizava Satanás, que buscava a oportunidade de invadir sua família, logo após o julgamento (Gn 8.7). De modo semelhante, no tempo da oferta simbólica de Abraão, Satanás, que estava aguardando a oportunidade de invadir a oferta, viu que o pombinho não tinha sido dividido pelo meio e o profanou. A Bíblia representou simbolicamente este fato descrevendo aves de rapina pousando sobre a oferta.

Que resultado foi produzido por esta falha na oferta simbólica? O insucesso de Abraão na oferta simbólica causou a anulação de todas as condições que deviam ser restauradas por indenização mediante a oferta simbólica. Em conseqüência, os descendentes de Abraão foram postos em escravidão durante 400 anos no Egito, a terra de Faraó. Estudemos agora a razão para isto.

Deus estabeleceu um período de 400 anos para a separação de Satanás, a fim de restaurar por indenização o número "40" do julgamento, como também as dez gerações que tinham sido invadidas por Satanás, por causa do erro de Cam, e sobre esta base Ele chamou Abraão e ordenou que oferecesse sacrifícios simbólicos. O fracasso de Abraão possibilitou a Satanás reivindicar a oferta; por isso o período de 400 anos depois de Noé, que é o período de indenização para estabelecer Abraão como o pai da fé por meio da oferta simbólica, foi também invadido por Satanás. A fim de restaurar por indenização tanto a posição de Abraão antes de sua falha na oferta simbólica, quanto a de Noé ao ser chamado para a construção da arca, Deus tinha que estabelecer novamente um período de 400 anos para a separação de Satanás. Os 400 anos da escravidão dos israelitas no Egito aconteceram com a finalidade de colocar Moisés no fundamento de ter restaurado por indenização, no nível nacional, a posição de Noé ou Abraão, no tempo em que estavam para iniciar como o pai da fé. Este período de escravidão foi o período de punição, devido à falha de Abraão na oferta, como também o período para assentar o fundamento para a separação de Satanás em favor da nova providência de Deus.

Já dissemos que Deus se propunha a realizar, ao mesmo tempo, toda a providência representada por formação, crescimento e aperfeiçoamento, ordenando a Abraão que oferecesse com bom êxito um sacrifício simbólico de três espécies sobre um altar. Quando Abraão falhou, a providência de Deus foi estendida através dele a Isaac e Jacó, três gerações.

 

(ii) A Oferta de Isaac por Abraão

Depois da falha de Abraão na oferta simbólica, Deus ordenou que ele oferecesse seu filho Isaac em holocausto (Gn 22.2), com o qual Deus deu início a uma nova providência para restaurar por indenização a falha na oferta simbólica de Abraão. De acordo com a teoria da predestinação no Princípio, Deus não utiliza pela segunda vez uma pessoa que foi chamada para uma certa missão e falha em executar sua porção de responsabilidade. Como, então, Deus pôde operar Sua providência por meio da oferta de Isaac para restaurar a falha de Abraão em sua oferta simbólica, visto que sua falha na oferta simbólica anulou toda a Vontade que deveria ser estabelecida por meio da oferta?

Primeiro: com relação à providência divina para restaurar o fundamento para receber o Messias, a providência centralizada na família de Adão foi a primeira, enquanto a providência centralizada na família de Noé foi a segunda, e a que se centralizou na família de Abraão foi a terceira. O número "três" é o número da perfeição (cf. Parte II, Capítulo III, Seção II, 4) e, visto que a providência por meio de Abraão era a terceira vez da providência para restaurar o fundamento para receber o Messias, havia uma condição no Princípio para o cumprimento desta providência. Portanto, Abraão podia restaurar todos os objetos ou condições perdidas simbolicamente devido à falha na oferta simbólica oferecendo seu próprio filho como oferta substancial, estabelecendo assim uma condição de indenização de valor muito maior do que a condição anterior.

Segundo: como já foi mencionado, a posição de Abraão ao oferecer os sacrifícios era a de Adão. Naquele tempo Satanás invadiu duas gerações sucessivas, profanando Adão e seu filho Caim. Naturalmente, de acordo com o princípio da restauração por indenização, a providência de tomar de volta as duas gerações, a de Abraão e a de seu filho era possível no lado celeste.

Terceiro: Adão não podia oferecer os sacrifícios diretamente perante Deus, mas Noé, colocado no fundamento do coração de Abel, que tornou possível o êxito na oferta simbólica no estágio de formação enquanto estava na posição de Adão, podia diretamente oferecer a oferta simbólica da arca. Deste modo, Abraão foi chamado tanto sobre o fundamento de Abel, que tinha tido êxito na oferta simbólica no estágio de formação, como de Noé, que tinha tido êxito na oferta simbólica no estágio de crescimento. Naquele nível, ele ofereceu a oferta simbólica no estágio de aperfeiçoamento. Por isso, embora Abraão tivesse falhado na oferta simbólica, Deus podia fazer com que ele oferecesse o sacrifício novamente, sobre a condição do fundamento histórico de coração e zelo, em vista de que Abel e Noé tinham tido êxito na oferta simbólica.

Por ocasião da oferta de Isaac como sacrifício, Abraão tinha que estabelecer a condição de fé para a oferta de Isaac pelo estabelecimento da condição simbólica de indenização para restaurar a família de Adão, tal como fizera por ocasião de sua oferta simbólica. Portanto, Abraão planejou com sua esposa, Sara, simular que estavam na posição de irmão e irmã. Depois de ter sido despojado de sua mulher por Abimelec, rei de Gerar, tomou sua esposa de volta do rei. Desta vez, Abraão levou sua esposa juntamente com escravos, simbolizando a humanidade, e riquezas, simbolizando todas as coisas (Gn 20.1-16).

De que maneira, então, Abraão ofereceu Isaac como sacrifício? Quando, em obediência ao mandamento de Deus, com fé absoluta, Abraão estava a ponto de sacrificar seu filho único Isaac, a quem tinha recebido como uma bênção, Deus ordenou que ele não estendesse sua mão sobre o moço e disse: "Agora sei que temes a Deus..." (Gn 22.12). O coração e o zelo de Abraão para com a vontade de Deus e sua resolução de imolar seu filho, que provinha de sua fé, obediência e lealdade absolutas, colocaram-no em uma posição igual à de ter matado Isaac; por isso ele pôde separar Satanás de Isaac. Desta forma, Deus ordenou que Abraão não matasse o filho, porque Isaac, estando separado de Satanás, já se havia posto no lado do Céu. Devemos saber que quando Deus disse: "Agora sei .......", estava salientando a mistura de Sua reprovação pelo erro de Abraão na oferta simbólica e de Sua alegria por seu êxito na oferta de Isaac.

Desta maneira, a providência da restauração de Deus centralizada na família de Abraão devia cumprir-se por meio de Isaac, mediante o êxito de Abraão no oferecimento de Isaac.

Transcorreu um período de três dias antes que Abraão oferecesse seu filho em holocausto no Monte Moriá, de modo que pudesse iniciar um novo curso providencial separando Isaac de Satanás para o lado celeste. Este período de três dias continuou como um período necessário para a separação de Satanás antes de iniciar um novo curso providencial. Jacó também teve um período de três dias de separação de Satanás, antes de iniciar o curso de restauração de Canaã em nível de família, retirando sua família de Harã (Gn 31.20-22). Moisés também teve um período de três dias de separação de Satanás, antes de iniciar o curso da restauração de Canaã no nível nacional, retirando a nação israelita do Egito (Êx 8.27-29). Jesus também teve um período de três dias de separação de Satanás no sepulcro, antes de iniciar o curso da restauração de Canaã em nível mundial, espiritualmente. Deve-se notar também que quando os israelitas regressaram a Canaã, centralizados em Josué, a Arca da Aliança, que ia adiante das tropas principais, viajou um curso de três dias de separação de Satanás (Nm 10.33).

 

(iii) A Posição de Isaac do Ponto de Vista da Vontade, e Sua Oferta Simbólica

Já ficou anteriormente tratado em detalhe sobre o fato que, apesar do insucesso de Abraão em sua oferta simbólica, restava ainda uma condição no Princípio que possibilitava o estabelecimento do fundamento para receber o Messias, centralizando-se em Abraão. Porém, como esclarecemos no capítulo sobre a Predestinação, a situação era que Deus não podia repetir Sua providência centralizando-se em Abraão, que tinha falhado em cumprir sua porção de responsabilidade. Em conseqüência, Deus tinha que considerar Abraão na posição de não ter falhado, embora ele de fato tivesse falhado em sua oferta simbólica. Ele tinha que considerar a providência da restauração, prolongada depois de Abraão, na posição de não ter sido prolongada. Para esta finalidade, Deus ordenou que Abraão sacrificasse Isaac em holocausto.

Deus prometeu a Abraão chamar Sua nação escolhida por meio de Isaac dizendo:

"... aquele que vai sair de tuas entranhas, esse será o teu herdeiro!" Então, conduziu-o fora e disse: Levanta os olhos para os céus, e conta as estrelas, se és capaz ... Pois bem, ajuntou Ele, assim será a tua descendência" (Gn 15.4-5).

Em conseqüência, a lealdade de Abraão, demonstrada por sua disposição em matar seu filho da promessa sob a ordem de Deus, estabeleceu a mesma condição como se ele tivesse matado a si mesmo invadido por Satanás devido à falha em sua oferta simbólica. Portanto, o fato de ter Deus feito Isaac sobreviver significa que o próprio Abraão foi ressuscitado da situação de ter morrido, separando a si mesmo de Satanás, juntamente com Isaac. Por isso Abraão pôde separar-se de Satanás, que o tinha invadido devido à falha em sua oferta simbólica, ao ter êxito em sua oferta de Isaac. Ademais, ele pôde colocar-se em posição de unidade completa com Isaac, centralizada na vontade de Deus.

Deste modo, Abraão, tal como Isaac, que sobreviveu à morte, embora fossem dois indivíduos, eram um só corpo centralizado na vontade de Deus. Se Isaac tivesse êxito na providência, embora a providência através de Abraão tivesse falhado e fosse prolongada até Isaac, o êxito de Isaac podia igualmente ser o êxito do próprio Abraão, que era um só corpo com Isaac. Por conseguinte, apesar do fato da providência ter sido prolongada de Abraão a Isaac, devido à falha de Abraão em sua oferta simbólica, do ponto de vista da Vontade, ficou como se Abraão não tivesse falhado e a providência não tivesse sido prolongada.

Ninguém sabe com certeza qual era a idade de Isaac por ocasião da oferta. No entanto, do fato de que podia levar a lenha que devia ser usada para o holocausto (Gn 22.6) e que ele perguntou a seu pai onde estava o cordeiro para o holocausto (Gn 22.7), aparentemente Isaac tinha idade suficiente para entender o significado do incidente. Podemos outrossim imaginar que Isaac tenha obedecido e cooperado com seu pai no momento do holocausto.

Se Isaac, que tinha idade suficiente para compreender a situação, tivesse resistido à decisão de seu pai matá-lo em holocausto, Deus de modo algum teria aceito a oferta de Isaac. A lealdade de Abraão unida à de Isaac que sem dúvida não era menor, produziu o êxito da oferta de Isaac, possibilitando assim que ocorresse a separação de Satanás.

Conseqüentemente, centralizando-se na oferta, tanto Abraão como Isaac sobreviveram. Primeiro, Abraão pôde restaurar por indenização sua posição antes de sua falha na oferta, separando a si mesmo de Satanás, que o havia invadido por causa de seu fracasso na oferta simbólica. Desta posição, podia transferir sua missão providencial a Isaac. Segundo, Isaac, que herdou a missão divina de seu pai Abraão, obedecendo em completa submissão à Vontade, tornou-se assim capaz de estabelecer a condição de fé para oferecer o sacrifício simbólico mais tarde.

Deste modo, a vontade divina foi transmitida de Abraão a Isaac, e Abraão ofereceu um cordeiro em holocausto, em lugar de Isaac, como está escrito:

"Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e, tomando-o, ofereceu-o em holocausto, em lugar do seu filho." (Gn 22.13)

Isto se tornou, na realidade, a oferta simbólica estabelecida a fim de restaurar o fundamento de fé centralizado em Isaac. Do fato que Isaac levou o feixe de lenha para o holocausto, pode-se concluir que ele cooperou com Abraão quando ofereceu o cordeiro como holocausto. Conseqüentemente, embora Abraão tenha oferecido o cordeiro como oferta simbólica, o resultado, do ponto de vista da vontade de Deus, foi que o próprio Isaac ofereceu o sacrifício, porque tinha herdado a missão de seu pai tornando-se um só corpo com ele. Desta maneira, Isaac restaurou por indenização o fundamento de fé, ao ter êxito na oferta simbólica, na posição de substituto de Abraão, depois de herdar sua missão.

 

2. FUNDAMENTO DE SUBSTÂNCIA

Como figura central para restaurar o fundamento de fé em lugar de Abraão, Isaac ofereceu um sacrifício simbólico aceitável com o cordeiro. Assim Isaac pôde estabelecer o fundamento de fé. A fim de estabelecer o fundamento para receber o Messias centralizando-se em Isaac, devia haver o fundamento de substância realizado na condição de indenização para eliminar a natureza decaída. Isto devia realizar-se oferecendo um sacrifício substancial com seus filhos Esaú e Jacó, nas posições de Caim e Abel.

Se Abraão não tivesse falhado na oferta simbólica, Isaac e seu irmão consangüíneo Ismael, em lugar de Abel e Caim, deviam ter estabelecido a condição de indenização para eliminar a natureza decaída, que tinha sido deixada inacabada por Caim e Abel. Por causa da falha de Abraão, Deus, estabelecendo Isaac na posição de Abraão, e Esaú e Jacó em lugar de Ismael e Isaac, operou a providência para levá-los a estabelecer a condição de indenização para eliminar a natureza decaída. Por isso Esaú e Jacó, centralizando-se em Isaac, estavam na posição de Caim e Abel centralizando-se em Adão e, ao mesmo tempo, na posição de Sem e Cam centralizando-se em Noé.

O filho mais velho de Isaac, Esaú, e o segundo filho, Jacó, eram símbolos, respectivamente, da primeira oferta simbólica de Abraão, que fora invadida por Satanás e da sua segunda oferta de Isaac, separada de Satanás; representavam o bem e o mal, tendo que oferecer sacrifícios substanciais nas posições, respectivamente, de Caim e de Abel. Esaú e Jacó lutaram, ainda no ventre da mãe (Gn 25.22-23), porque estavam nas situações conflitantes de Caim e de Abel, que tinham sido separados como as representações do mal e do bem respectivamente. Outrossim, Deus amou Jacó e aborreceu Esaú enquanto ainda estavam no ventre de sua mãe (Rm 9.11-13), porque representavam o bem e o mal respectivamente.

Para que Esaú e Jacó estabelecessem a condição de indenização para tirar a natureza decaída por meio das ofertas substanciais, Jacó tinha primeiro que estabelecer a condição para restaurar por indenização a posição de Abel, que era a figura central para a oferta substancial.

Primeiro: Jacó tinha que estabelecer uma condição de vitória em sua luta para restaurar o direito de primogenitura no nível individual. Satanás tinha ocupado o mundo da criação de Deus na posição de filho mais velho. Deus, da posição do filho mais novo, tinha operado Sua providência para tomar o direito de primogenitura do mais velho. É por isto que Deus "aborreceu" o mais velho e amou o mais novo (Ml 1.2-3). Entretanto, Jacó, que tinha sido chamado estando ainda no ventre de sua mãe com a missão de restaurar a primogenitura do mais velho, sabiamente tomou a primogenitura de seu irmão mais velho Esaú com um pouco de pão e uma sopa de lentilhas (Gn 25.34). Deus fez com que Isaac abençoasse Jacó, porque ele procurava restaurar a primogenitura reconhecendo seu valor (Gn 27.27), ao passo que Ele não abençoou Esaú porque este, ao contrário, considerava a primogenitura de tão pouco valor que a vendeu por uma sopa de lentilhas.

Segundo: Jacó foi para Harã e lá triunfou em sua luta para restaurar a primogenitura do mais velho, centralizando-se na família e nas riquezas, durante 21 anos de trabalho penoso e depois voltou para Canaã.

Terceiro: Jacó restaurou substancialmente a dominação sobre o anjo, pela vitória na luta contra ele no vau do Jaboque, no caminho de volta de Harã para Canaã, a terra prometida por Deus.

Finalmente Jacó se tornou a figura central para a oferta substancial, restaurando por indenização a posição de Abel.

Deste modo, Esaú e Jacó estabeleceram as posições de Caim e Abel no tempo em que Deus aceitou a oferta de Abel. Portanto, para que eles estabelecessem a condição de indenização para eliminar a natureza decaída, Esaú tinha que amar Jacó, estabelecê-lo como o mediador e obedecer-lhe na posição de ser dominado por ele, colocando-se assim na posição de multiplicar o bem, herdando o bem de Jacó, que tinha recebido a bênção de Deus. Entretanto, Esaú, de fato, amou e recebeu bem Jacó, quando este voltou para Canaã com sua família celeste e as riquezas, depois de ter terminado o árduo trabalho de 21 anos em Harã (Gn 33.4); assim puderam estabelecer a condição de indenização para eliminar a natureza decaída. Desta maneira, puderam restaurar por indenização aquilo que Caim e Abel, na família de Adão, e Sem e Cam, na família de Noé, tinham falhado em realizar na oferta substancial.

Assim, mediante o êxito na oferta substancial por Esaú e Jacó, o curso vertical da história, que a partir da família de Adão tivera como meta restaurar por indenização o fundamento de substância, foi, pela primeira vez, restaurado por indenização sobre a base horizontal na família de Isaac, no curso providencial da restauração centralizada em Abraão.

O testemunho bíblico diz (Rm 9.11-13) que Deus aborreceu Esaú enquanto ainda estava no ventre de sua mãe. Contudo, ele pôde colocar-se na posição de um Caim restaurado, porque cumpriu sua porção de responsabilidade, submetendo-se a Jacó e, finalmente, recebeu o amor de Deus. Devemos entender que Deus aborreceu Esaú meramente porque ele estava na posição de Caim, que tinha estado no lado de Satanás no curso providencial para estabelecer as condições de indenização.

 

3. FUNDAMENTO PARA RECEBER O MESSIAS

O fundamento para receber o Messias, que devia ser estabelecido na família de Adão, foi prolongado através de três gerações até Abraão, porque as figuras centrais encarregadas da providência da restauração falharam em realizar suas porções de responsabilidade. Contudo, a vontade de Deus foi prolongada até Isaac, devido à falha na oferta simbólica de Abraão, que devia cumprir a Vontade. O fundamento de fé e o fundamento de substância foram estabelecidos centralizando-se na família de Isaac e, pela primeira vez, foi estabelecido o fundamento para receber o Messias. Por conseguinte, o Messias devia vir naquela época.

Ao considerarmos as coisas centralizando-se no fundamento para receber o Messias, devemos primeiro conhecer o ambiente social necessário ao fundamento para receber o Messias. Os homens decaídos devem primeiro estabelecer o fundamento para receber o Messias a fim de fornecer a base para restaurar o mundo, estabelecido centralizado em Satanás, para o reino centralizado no Messias. Na providência da restauração centralizada na família de Adão e na família de Noé, não havia outras famílias que pudessem invadir a família da vontade divina. Por isso o Messias devia vir no fundamento em nível de família para receber o Messias, se este tivesse sido estabelecido naquela época. Contudo, no tempo de Abraão, já havia uma nação formada por homens decaídos, centralizada em Satanás, lutando contra a família de Abraão. O Messias não podia ter vindo diretamente no fundamento em nível de família para receber o Messias, embora tivesse sido estabelecido. Eles podiam receber o Messias somente depois de ter estabelecido o fundamento no domínio do nível nacional, que pudesse fazer frente ao mundo satânico.

Portanto, embora Abraão tivesse tido êxito tanto na oferta simbólica como na oferta substancial, tornando possível, naquela época, o estabelecimento do fundamento em nível de família para receber o Messias, o Messias não poderia ter vindo, a menos que, no fundamento estabelecido, os descendentes de Abraão tivessem se multiplicado na terra de Canaã, formando assim o fundamento em nível nacional para receber o Messias.

Contudo, Abraão falhou na oferta simbólica. Como punição por aquilo, os descendentes de Isaac, embora tivessem estabelecido o fundamento em nível de família para receber o Messias, tiveram que partir de sua terra e ir para uma nação estrangeira. Deviam estabelecer o fundamento em nível nacional para receber o Messias somente depois de 400 anos de tribulações, após sua volta para Canaã.

Quem deveria iniciar o curso de indenização deixado para os descendentes de Abraão devido à sua falha na oferta simbólica? Era Jacó, e não Isaac. O motivo é que, como ficou demonstrado, a figura central que deveria passar pelos cursos de indenização, seria de tipo Abel, sendo o centro da oferta substancial. Por isso Abel, na família de Adão; Cam, na família de Noé; Isaac, na família de Abraão e Jacó, na família de Isaac, teriam que passar por um curso de indenização, representando suas respectivas famílias.

Jacó, especialmente, devia passar pelo curso tradicional de separação de Satanás, como o modelo a ser seguido por Jesus mais tarde, porque ele era a pessoa de tipo Abel, colocada sobre o fundamento para receber o Messias (cf. Parte II, Capítulo II, Seção I). A família de Jacó tinha que iniciar este curso de indenização na posição da família de Isaac, porque tinham que realizar a finalidade da providência da restauração centralizada em Abraão. Para fazer isto, a família de Jacó teve que levar o pecado de Abraão através do curso de indenização de 400 anos. Na família de Isaac, Jacó, na posição de Abel, havia tomado este curso de indenização. Por isso, na família de Jacó, José, filho de Raquel (esposa de Jacó no lado celeste), tinha que estabelecer a posição de Abel, indo para o Egito primeiro e lá seguindo o curso de indenização.

Portanto, José foi vendido por seus irmãos e levado para o Egito. Depois de tornar-se o primeiro ministro do Egito com a idade de 30 anos, aquilo que lhe tinha sido revelado pelos céus em seu sonho de criança veio a tornar-se realidade (Gn 37.5-11), quando os irmãos consangüíneos de José, os outros filhos de Jacó no lado satânico, se submeteram a ele. Assim eles seguiram o curso de chegar primeiro ao Egito, por parte dos filhos, e mais tarde, os pais foram conduzidos pelo mesmo curso. Deste modo, a família de Jacó iniciou o curso de indenização para mais tarde receber o Messias em nível nacional.

Desta maneira, a providência centralizada em Isaac foi prolongada ao curso providencial centralizado em Jacó. Jacó, que levava o pecado de Abraão, iniciou o curso de indenização para cumprir a vontade de Isaac em nível nacional. Por isso Abraão, Isaac e Jacó foram todos um só corpo, embora fossem diferentes como indivíduos, tal como Abraão e Isaac eram um só corpo, do ponto de vista do significado da Vontade. Conseqüentemente, o sucesso de Jacó representava o sucesso de Isaac, e o sucesso de Isaac representava o sucesso de Abraão. Portanto, a providência da restauração centralizada em Abraão, embora fosse prolongada até Isaac e depois até Jacó, é exatamente como se tivesse sido realizada em uma só geração, sem prolongamento algum, quando encarada do ponto de vista do significado da vontade divina. A passagem bíblica em que Deus disse: "Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó" (Êx 3.6), nos diz que essas três gerações, embora diferentes, são exatamente como se fossem uma só geração, do ponto de vista do significado da vontade divina, já que são todos eles nossos antepassados que realizaram um só propósito divino, em esforços conjuntos.

De fato, Deus se propunha a realizar a providência da restauração primeiro fazendo com que a família de Jacó sofresse 400 anos de escravidão no Egito, o mundo satânico; depois, escolhendo-os como a nação eleita e trazendo-os de volta para Canaã, como havia prometido em Sua bênção a Abraão. Então Deus tencionava levá-los a estabelecer o fundamento em nível nacional para receber o Messias e finalmente Ele enviaria o Messias sobre aquele fundamento.

Portanto, o fundamento para receber o Messias, estabelecido centralizado na família de Isaac, tornou-se a base para iniciar o curso de indenização para o estabelecimento do fundamento em nível nacional para receber o Messias. Em conseqüência, o período de 2.000 anos de Adão até Abraão foi aquele durante o qual assentaram a base para iniciar o estabelecimento do fundamento para receber o Messias em nível nacional na idade seguinte.

Jacó, que se encarregou do curso de indenização que resultou da falha de Abraão na oferta simbólica, teve êxito na luta em nível individual ao tomar o direito de primogenitura de Esaú, usando sua sabedoria em favor da vontade celeste; e triunfou novamente nos 21 anos de luta para tomar o direito de primogenitura, em nível de família, do irmão de sua mãe, Labão, em Harã, o mundo satânico. Ao voltar de Harã para Canaã, Jacó venceu na luta contra o anjo e ganhou o nome de "Israel’, estabelecendo a condição de indenização para restaurar o domínio sobre o anjo, pela primeira vez, como um homem decaído, desde a queda dos primeiros antepassados humanos. Assim pôde construir a base para a formação da nação escolhida.

Jacó regressou para Canaã através de tal curso, e depois disso, estabeleceu a condição de indenização para remover a natureza decaída. Portanto, Jacó estabeleceu com êxito o padrão da subjugação de Satanás. Moisés, e também Jesus, tiveram que seguir este curso típico, e os israelitas, como um todo, tiveram também que segui-lo. Portanto, a história da nação israelita é a narrativa histórica deste curso típico, no qual subjugaram Satanás em nível nacional. É por isso que a história da nação israelita é o foco central da história providencial da restauração.

4. Lições Aprendidas do Curso de Abraão

A providência da restauração centralizada em Abraão nos mostra, primeiro, como é a predestinação de Deus com respeito a Sua vontade. A providência da restauração não pode ser realizada somente pelo poder de Deus, mas deve ser realizada pela ação conjunta do homem com Deus. Em conseqüência, Deus não podia realizar Sua vontade através de Abraão, embora tivesse chamado Abraão para cumprir a finalidade da providência da restauração, porque Abraão falhou em realizar sua porção de responsabilidade.

Segundo: isto nos mostra como é a predestinação de Deus para o homem. Deus predestinou Abraão para ser o pai da fé, mas quando ele falhou em cumprir sua porção de responsabilidade, sua missão foi transferida a Isaac e depois a Jacó.

Terceiro: isto nos mostra que a providência da restauração deve prolongar-se necessariamente quando o homem falha em cumprir sua porção de responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma maior condição de indenização deve ser estabelecida a fim de restaurar a falha. No caso de Abraão, a Vontade devia cumprir-se pela oferta de sacrifícios de animais; mas, devido ao seu erro, teve que cumprir-se somente através da oferta de seu amado filho Isaac, como sacrifício.

Quarto: isto nos mostra, pelo ato de dividir os sacrifícios, que nós também devemos dividir-nos como sacrifício, representando o bem e o mal. Uma vida religiosa é aquela em que a pessoa se coloca na posição de sacrifício e se oferece como sacrifício aceitável a Deus, dividindo-se pelo meio, representando o bem e o mal. Portanto, se nós não separarmos o bem e o mal em nós mesmos, centralizados na vontade de Deus, é criada uma condição para Satanás invadir.